quarta-feira, 30 de março de 2011

Mrs. Dalloway

Woolf, Virginia. Mrs. Dalloway. Editora Nova Fronteira; São Paulo / SP; 2003; 187 páginas.

Dados da obra:

A história conta um dia na vida de Clarissa Dalloway – a senhora que dá o título à obra –, enquanto ela prepara uma festa em sua casa para logo mais à noite. Entre suas reflexões e lembranças a cerca da sua vida e das escolhas que fez, misturam-se outros personagens, também com suas lembranças e reflexões. A narrativa é linear e os personagens se sobrepõem um ao outro.

Breve relato do autor:


Virgínia Woolf foi uma das mais importantes escritoras britânicas. Teve a vida dedicada à literatura, fazendo parte do grupo Bloomsbury, círculo de intelectuais sofisticados formado depois da I Guerra Mundial. Vítima de uma grave depressão, suicidou-se em 1941.

Passagens:

“O vestíbulo da casa estava fresco como uma cripta. A Sra. Dalloway levou as mãos aos olhos, e, enquanto a criada fechava a porta e ela lhe ouvia o rugir das saias, sentiu-se como uma monja que volta ao mundo e sente que tombam sobre a sua fronte os familiares véus e a resposta às velhas devoções. A cozinheira assobiava na cozinha. Ouviu o taque-taque da máquina de escrever. Aquilo era a sua vida, e, inclinando a cabeça para a mesinha do vestíbulo, curvava-se ante a sua influência, sentia-se abençoada e purificada, e, enquanto tomava o anotador de recados telefônicos, dizia consigo que momentos como aqueles eram botões da árvore da vida, eram flores da escuridão, pensava (como se alguma linda rosa acabasse de florescer unicamente para seus olhos); nem um só momento acreditara em Deus; mas uma razão, pensou com o anotador suspenso, para agradecer, na vida diária, às criadas, sim, aos cachorros e canários, e principalmente a Richard, seu marido, no qual tudo repousava – pelos alegres rumores, pelas luzes verdes, pelo assobio da cozinheira, pois a Sra. Walker era irlandesa e assobiava todo o dia – para agradecer-lhes por aquele secreto espírito de deliciosos momentos, pensou, erguendo o anotador...”

“Agora Elizabeth tinha sido ‘apresentada’, provavelmente considerava-o uma múmia, ria dos amigos de sua mãe. Mas que se lhe havia de fazer? A compensação de a gente envelhecer, pensava Peter Walsh, retirando-se de Regent´s Park, com o chapéu na mão, era simplesmente esta: que as paixões permanecem tão fortes como antes, mas adquire-se – afinal! – o poder que dá o supremo sabor à existência: o poder de nos apoderarmos da experiência e volteá-la, lentamente, em plena luz.”

“...De súbito Elizabeth avançou e, com a maior desenvoltura, abordou o ônibus, na frente de todos. Escolheu um assento na imperial. A impetuosa máquina – um navio pirata – trepidou, partiu; ela teve de agarrar-se ao balaústre para não cair, pois aquilo era mesmo um navio pirata, com toda a sua brutalidade, a falta de escrúpulos, que avançava implacavelmente, fazia as mais perigosas curvas, colhia este passageiro, desprezava aquele, deslizava por entre o tráfego como uma enguia, e precipitava-se insolentemente, com todas as velas pandas em Whitehall.”

“...Mas críquete não era um simples jogo. O críquete era uma coisa importante. Impossível deixar de ler as partidas de críquete. Leu primeiro os resultados na seção especial; depois as notícias do calor, depois a reportagem de um crime. Ter feito coisas milhões de vezes, enriquece-as, embora possa dizer-se que lhes tira a superfície. O passado nos enriquece, e a experiência, e o ter amado uma ou duas vezes, pois se adquire o poder, que falta à juventude, de ir direito ao fim, de fazer o que bem se entende, sem dar importância aos outros, e de mover-se pelo mundo sem grandes expectativas (deixou o jornal sobre a mesa e retirou-se), o que, no entanto (foi buscar o chapéu), não era inteiramente certo para ele, pelo menos naquela noite, pois saía a fim de ir a uma festa, na sua idade, certo de que ia ter uma nova experiência. Mas que experiência?”

segunda-feira, 21 de março de 2011

Lava nos Estados Unidos

Kopelman, Jay. Lições de vida de um cão chamado Lava. Editora Best Seller; Rio de Janeiro / RJ; 2009; 178 páginas.

Dados da obra:

Com a vinda do cão Lava do Iraque para os Estados Unidos, que foi relatada em “De Bagdá com muito amor” pelo tenente coronel Jay Kopelman, o autor narra a difícil adaptação do cão à sua nova vida e as consequências da guerra no comportamento de seu fiel amigo. Nessa empreitada o próprio Jay percebe que ele próprio precisa se readaptar ao convívio dos amigos e familiares.

Breve relato do autor:

Jay Kopelman é um ex- tenente-coronel do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos. Autor do best seller De Bagdá com muito amor.

Passagens:

“Os cães são nossa ligação com o paraíso. Não conhecem o mal, a inveja ou o descontentamento. Estar sentado com um cão numa colina numa tarde gloriosa é estar de volta ao Éden, onde não fazer nada não era tédio – era paz”. – Milan Kundera.

“Se eu não fosse suficientemente velho para saber que não ia adiantar – e eu nunca fora um bobalhão – teria me lançado em direção ao vidro de uma janela, para poder sentir a dor física de Lava, pelo menos num certo grau. Como se isso pudesse tirar só um pouquinho a dor dele e transferi-la para mim. Por que eu não podia voltar no tempo? Por que eu não podia alterar os acontecimentos de tal maneira que meu passeio com Lava naquele exato momento não coincidisse com uma motorista distraída descendo a rua em alta velocidade? Será que eu poderia descobri uma forma de poder voltar – como quando o Super-Homem inverte a rotação da Terra – e impedir a confluência de Lava e de uma dessas socialites e impedir a confluência de Lava e de uma dessas socialites indo almoçar sabe-se Deus onde naquela velocidade insensata?”

“Mas eu deveria ser mais inteligente que isso – melhor que isso. Cheguei a aprender que não se pode controlar sempre o medo, a dor e a raiva, suprimindo-os. Tentar parecer forte do lado de fora quando você está internamente em conflito e sentindo dor não vai funcionar. Eu percebo isso em Lava, especialmente quando o medo ficava demasiadamente grande para ele. Ele tinha muito medo de mar. Ficava apavorado, com o corpo inteiro tremendo e recusando-se a mover. As ondas batendo na areia teriam soado como bombas para ele? A areia instável sob os pés lhe recordaria sua existência anterior, insegura e selvagem? Eu podia reconhecer isso nele e até pensar em como poderia ajudá-lo a despeito disso, mas acreditava, com a convicção de um fanático, que nenhuma das minhas experiências havia me transtornado da mesma maneira.”

“Ter Pam na minha vida modificou minha relação com Lava, mas também me mostrou o quanto ele havia me dado, a mim e a todos, lá naquele ânus do mundo – isto é, o Iraque. O simples fato de poder afagá-lo nos fazia lembrar de que ainda éramos humanos, ainda capazes de sentimentos. Estudos demonstraram que as pessoas que têm bichos de estimação apresentam níveis mais baixos de estresse e ansiedade. Um biólogo comentou recentemente na Newsweek que qualquer problema que possua uma componente relacionada ao estresse pode ser melhorado com um animal doméstico: ‘Fornecem um foco de atenção fora de si mesmo. Eles realmente fazem com que você se concentre neles em vez de concentrar-se o tempo inteiro para dentro de si mesmo’. Pois é, ciência prova que é verdade – faça um carinho no seu cachorro e você ficará feliz e mais saudável.”

“Dusty foi entregue aos meus pais na minha casa em Lasing, Michigan, aproximadamente uma semana e meia antes de eu chegar em casa, depois de ser desmobilizado; havíamos estado separados por cerca de dois meses, Portanto, compreendo sua experiência quando você reencontrou Lava em San Diego. Eu havia chegado em Lasing de trem por volta das 2 horas e cheguei em casa às 3. Dusty estava no nosso quintal, no engradado com que fora despachada e que meus pais usaram como canil. Quando ela ouviu o assovio com o qual eu costumava chamá-la, fez tanto estardalhaço que todos os vizinhos em volta souberam que eu havia chegado. Naquela época, sendo muito mais jovem que você, não tive problema em mostrar minhas emoções com o reencontro e eu não estava nem aí por quem presenciasse minhas lágrimas e meu amor por Dusty.” – Robert L. Robinson, Técnico da Oitava Divisão Blindada, Nono Exército.

quarta-feira, 9 de março de 2011

De Bagdá com muito amor

Kopelman, Jay; Roth, Melinda. De Bagdá com muito amor. Editora Best Seller; Rio de Janeiro/ RJ; 2007; 218 páginas.

Dados da obra:

No início da ocupação norte-americana, na cidade de Faluja, Iraque, um grupo de fuzileiros encontram um cãozinho abandonado, em meio a uma cenário de destruição e morte. Adotado pela tropa, o pequeno Lava conquista Jay Kopelman, um tenente-coronel, que vai mover céus e terras para tentar levar o animalzinho para os Estados Unidos. A história de amor entre um um homem e um cão, e como este ajudou a amenizar os terrores da guerra entre aqueles que com ele conviveram.

Breve relato do autor:

Jay Kopelman é um ex- tenente-coronel do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos; Melinda Roth é jornalista e autora de The Man Who Talks to Dogs.

Passagens:

“Ken tinha sorte. Na verdade, era um homem abençoado. Tinha começado a trabalhar com cachorros em 1977, como adestrador e tratador da polícia da Força Aérea, e percebeu imediatamente que os cães garantiam a sanidade dos homens. Inicialmente, achou que a concentração necessária a um bom adestrador e tratador exigisse equilíbrio mental, mas, ao longo dos anos – e do trabalho no Serviço Secreto, na segurança de presidentes e personalidades estrangeiras, dos Jogos Pan-americanos e do Papa, com seus cães e adestradores –, Ken aprendeu que era mais do que isso.
Quando você passa toda a carreira no meio da violência, os cães o ajudam a lembrar que ainda é humano.”

“Se um cão ‘inapto’ for considerado ‘adotável’ – isto é, se ele não estiver propenso a invadir playgrounds para atacar criancinhas sem ser provocado – e se quem o adotar compreender os riscos envolvidos – isto é, se entender que pode acontecer que crianças pequenas o provoquem e ele invada o playground e as ataque –, esse novo dono assinará um acordo que absolve o departamento de Defesa de qualquer responsabilidade por danos ou ferimentos que o cão possa causar.
A maioria, no entanto, é considerada ‘não-adotável’. Esses são os cães cuja vida foi devotada a executar comandos perfeitamente, que se dedicaram completamente aos militares, a quem obedeceriam até a morte. Os cães mais fiéis, mais confiáveis, mais patrióticos do grupo. Por isso é expedido um documento de ‘disposição final’ para que seja praticada a eutanásia.”

“No fim de semana, Anne me envia outro e-mail.
Ele hoje salvou minha sanidade. Estava cheia de tudo isso aqui e de todo o meu trabalho, mas fui para casa e fiquei brincando com ele.
Imagino que a presença de Lava nas instalações da rádio proporciona a todos os humanos uma fuga temporária da realidade e os leva através de vários pontos de controle até a terra do faz-de-conta, onde os cachorrinhos saltitam em gramados verdes e macios e está um lindo dia na vizinhança.”

“Ele é assim. Tudo o que Lava faz é intenso. Quando come, ele suspira. Quando se sente solitário, geme. Quando está cansado, deita-se e, em poucos segundos, já está roncando. Quando quer brincar, fica saltando diante de você, morde os laços de seus coturnos, não se aquieta, não pede desculpas, simplesmente usa tudo o que pode para atrair sua atenção.”

“...quero Lava vivo. Não importa o quanto a situação esteja ruim, ainda vale a pena estar vivo. Quero acreditar que ele ainda está respirando, saltando atrás das nuvens de poeira e perseguindo inimigos imaginários em seus sonhos. Quero que ele fique vivo, porque assim, ainda haverá esperanças de que consiga chegará à Califórnia e passe a ser um cachorro norte-americano que corre na praia e persegue o carteiro, em vez de desconhecidos com armas. Mais do que qualquer outra coisa, quero que ele fique vivo porque, devo confessar, antes de Lava eu era um fuzileiro de quem não se esperava qualquer reflexão sobre a vida e a morte. Eu carregava uma mochila repleta de cupons que valiam a absolvição. Agora, depois de conhecer Lava e deixar o medo tomar conta de mim, percebo uma vaga semelhança entre um assassino em série e eu.”

”A expressão dos olhos de Lava ao saltar em minha direção tão depressa quanto lhe permitem as pernas é uma versão mais madura do olhar dele para mim no dia em que o empurrei com o coturno pelo chão no posto de comando; uma evolução do olhar dele para mim quando entrei no posto dos Cães de Lava e ele fez aquele xixi de submissão; a segunda parte daquele olhar patético, suplicante de quando eu o traí na fronteira com a Jordânia ao metê-lo de novo no engradado daquele motorista malvado.”

terça-feira, 1 de março de 2011

Fahrenheit 451

Bradbury, Ray. Fahrenheit 451. Editora Globo; São Paulo / SP; 2003; 216 páginas.

Dados da obra:

O livro narra um futuro incerto onde os livros são proibidos e perseguidos por um regime totalitário. A vida é controlada e as pessoas são manipuladas por meio de aparelhos de TVs. A história centra-se em Guy Montag, bombeiro, cuja função na sociedade é queimar os livros e tudo relacionado à leitura. Porém, Montag conhece uma menina e, aos poucos, começa a perceber o vazio da sua vida.

Breve relato do autor:

Ray Bradbury é um escritor de ascendência sueca e que escreve contos de ficção científica norte-americana. Mais conhecido pelas Crônicas Marcianas e Fahrenheit 451.

Passagens:

“– A escolaridade é abreviada, a disciplina relaxada, as filosofias, as histórias e as línguas são abolidas, gramática e ortografia pouco a pouco negligenciadas, e, por fim, quase totalmente ignoradas. A vida é imediata, o emprego é que conta, o prazer está por toda a parte depois do trabalho. Por que aprender alguma coisa além de apertar botões, acionar interruptores, ajustar parafusos e porcas?”

“– Os negros não gostam de Little Black Sambo. Queime-o. Os brancos não se sentem bem em relação ào Cabana do Pai Tomás. Queime-o. Alguém escreveu um livro sobre o fumo e o câncer de pulmão? As pessoas que fumam lamentam? Queimemos o livro. Serenidade, Montag. Paz, Montag. Leve sua briga lá para fora. Melhor ainda, para o incinerador. Os enterros são tristes e pagãos? Elimine-os também. Cinco minutos depois de que uma pessoa morreu, ela está a caminho do Grande Crematório, os incineradores atendidos por helicópteros em todo o país. Dez minutos depois da morte, um homem é um grão de poeira negra. Não vamos ficar arengando os in memoriam para os indivíduos. Esqueça-os. Queime tudo, queime tudo. O fogo é luminoso e o fogo é limpo.”

“... você sabe por que livros como este são tão importantes? Porque têm qualidade. E o que significa a palavra qualidade? Para mim significa textura. Este livro tem poros. Tem feições. Este livro poderia passar pelo microscópio. Você encontraria vida sob a lâmina, emanando em profusão infinita. Quanto mais poros, quanto mais detalhes de vida fielmente gravados por centímetro quadrado você conseguir captar numa folha de papel, mais ‘literário’ você será. Pelo menos esta é a minha definição. Detalhes reveladores. Detalhes frescos. Os bons escritores quase sempre tocam a vida. Os medíocres apenas passam rapidamente a mão sobre ela. Os ruins a estupram e a deixam para as moscas. Entende agora por que os livros são odiados e temidos? Eles mostram os poros no rosto da vida.”

“– O Dentifrício Denham; eles não tecem, nem fiam – disse Montag, os olhos cerrados. – E para onde vamos? Os livros nos ajudariam?
– Só se fosse dada a terceira coisa necessária. A primeira, como eu disse, é a qualidade da informação. A segunda, o lazer para digeri-la. E a terceira, o direito de realizar ações com base no que aprendemos da interação entre as duas primeiras. E tenho dúvidas de que um velhote e um bombeiro amargurado possam fazer muita coisa a essa altura do campeonato...”

“– Mas é – replicou Granger sorrindo. – E também somos queimadores de livros. Lemos os livros e os queimamos, por medo que sejam encontrados. Não compensava microfilmá-los; estávamos sempre viajando, não queríamos enterrar o filme para voltar mais tarde. Sempre haveria o risco de sermos descobertos. O melhor é guardá-los na cabeça onde ninguém virá procurá-los. Somos todos fragmentos e obras de história, literatura e direito internacional. Byron, Tom Paine, Maquiavel ou Cristo, tudo está aqui. E a noite avança. A guerra começou...”

“– Todos devem deixar algo para trás quando morrem, dizia meu avô. Um filho, um livro, um quadro, uma casa ou parede construída, um par de sapatos. Ou um jardim. Algo que sua mão tenha tocado de algum modo, para que sua alma tenha para onde ir quando você morrer. E quando as pessoas olharem para aquela árvore ou aquela flor que você plantou, você estará ali. Não importa o que você faça, dizia ele, desde que você transforme alguma coisa, do jeito que era antes de você tocá-la, em algo que é como você depois que suas mãos passaram por ela. A diferença entre o homem que apenas apara gramados e um verdadeiro jardineiro está no toque, dizia ele. O aparador de grama podia muito bem não ter estado ali; o jardineiro estará lá durante um vida inteira.”

“Uma última descoberta. Escrevo todos os meus romances e contos, como vocês já viram, num grande acesso de paixão prazerosa. Só recentemente, revendo o romance, percebi que Montag foi batizado com o nome de uma fábrica de papel. E Faber. Naturalmente, é um fabricante de lápis! Como meu inconsciente foi astuto ao dar esses nomes a eles.
E em não contar isso a mim!”