segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Livros - Ilha Deserta

Vários. Livros - Ilha Deserta. PubliFolha. São Paulo / SP; 2003; 187 páginas.

Dados da obra:

Sete autores, cada um com direito a dez livros. Uma biblioteca e tanto para a ilha deserta - mais um epílogo, sobre o maior de todos os náufragos: Robinson Crusoé

Autores:

Bernardo Ajzenberg, Carlos Heitor Cony, Contardo Calligaris, Manuel da Costa Pinto, Maria Rita Kehl, Moacyr Scliar, Nina Horta e Nuno Ramos.

Passagens:

"Há quem não consiga escovar os dentes sem antes estourar um cravo ou uma espinha do rosto. Há quem fume seu cigarro, infalivelmente, depois de um cafezinho. Como todo mundo, também acumulo pequenos vícios de tipo semelhante. Mas aqui cabe destacar um outro, de gênero diferente: antes de dormir, mesmo se fiquei horas absorvido por outra leitura, dou sempre uma espiadela na Recherche..., uma página qualquer, por sorteio. Às vezes, duas frases bastam: às vezes, uma. É a minha forma de oração." (Bernardo Ajzenberg)

"Só as crianças acreditam na existência das ilhas desertas. Uma ilha inteira à disposição. Desabitada, sem adultos. Sem inverno, sem mosquitos. Entre o mar e o mato, com água fresca abundante, frutas acessíveis, abrigo contra as intempéries. Tendo a sobrevivência garantida, o resto é pura aventura. Liberdade e aventura. E todo o tempo do mundo para ler e reler os mesmos livros adorados." (Maria Rita Kehl)

"Tudo começava na volta das férias. Como era triste o dia de volta das férias. O enfrentamento com a realidade sem fantasias da vida em família e da vida escolar. Só Monteiro Lobato podia me salvar da melancolia da volta para casa depois de um mês no mar ou no mato, um mês inteiro em que a vida era outra e me permitia inventar-me, dia a dia, como personagem de minha literatura particular." (Maria Rita Kehl)

"Loucura, solidão, difícil sobrevivência: estes são os elementos da síndrome da ilha deserta. Por isso adquire especial significação a clássica pergunta: que livros a gente levaria para uma ilha deserta? Esses livros não serão simples entretenimento: na ilha deserta eles se tornam a condição de nossa sobrevivência espiritual." (Moacyr Scliar)

"Kafka não perde tempo com isso; aliás, síntese é sua marca registrada. O viajante comercial Gregor Samsa transformou-se em inseto, e pronto. E agora? O que vai acontecer?
O que acontece é o objeto dessa sombria narrativa. Gregor Samsa (notar a semelhança desse sobrenome com 'Kafka') vive com a família, mas não recebe desta o menor apoio; ao contrário, tratam-no com hostilidade, e é com alívio que o vêem morrer. Ao final chegamos a uma dolorosa conclusão para aqueleas pessoas, Samsa já era um inseto, insignificante e repulsivo como um inseto. Kafka não está falando de baratas gigantes. Está falando da condição humana." (Moacyr Scliar)

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