quarta-feira, 18 de maio de 2011

Tive uma ideia!

Martinez, Monica. Tive uma ideia! O que é criatividade e como desenvolvê-la. Paulinas; São Paulo / SP 2010; 80 páginas.

Dados da obra:

Resultado de uma década de pesquisas, a obra procura explicar o conceito de criatividade baseando-se em dados evolutivos da raça humana, além de apresentar algumas técnicas para o leitor exercitar seu lado criativo. A publicação expõe a crescente importância da criatividade como requisito cada vez mais valorizado na vida e no mercado de trabalho.

Breve relato da autora:

Monica Martinez é doutora em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicação e Artes da USP e pós-doutora pela Universidade Metodista de São Paulo.

Passagens:

“Como espécie, é bom deixar claro, os seres humanos teriam tudo para dar errado, uma vez que não têm muitos dos atributos de outros colegas do reino animal. É o caso da mandíbula fraca, quando comparada à dos grandes felinos. Ou da prole, que fica muito tempo ao pé dos pais – um passarinho está pronto para decolar voo em poucos meses.”

“... alguns especialistas acreditam que talvez não foram os mais fortes que sobreviveram, como sugere o naturalista inglês Charles Darwin, mas os mais criativos. Ou, como Darwin dizia, os mais adaptados ao seu ambiente. Enfim, quem teve êxito em passar seus genes para a frente foram aqueles que conseguiram converter os revezes em vitórias ou, como diz o dito popular, transformar o limão em uma gostosa limonada.”

“Csikszentmihalyi é conhecido por ter proposto a teoria do flow, em português ´fluxo´, um estado de concentração e completa absorção em que a maioria das pessoas está imersa naturalmente quando mergulhada num processo criativo. Essa imersão caracteriza-se, segundo o pesquisador, por uma sensação de liberdade, completude e confiança na habilidade, aliada à ausência de noção temporal na qual a pessoa se esquece da passagem do tempo e até de algumas necessidades básicas, como, por exemplo, se alimentar. Algo muito parecido com o que experimentam as crianças totalmente envolvidas em um brinquedo, que precisam ser repetidamente chamadas pelos pais a se banharem para o jantar. Essa experiência resulta na sensação de se estar vivendo mais plenamente do que no restante da vida.”

“Finalmente, o terceiro e último exemplo de cientista criativo é o físico alemão Albert Einstein (1879-1955), famoso por ter formulado a teoria da relatividade. Em seu livro Como vejo o mundo (Editoria Nova Fronteira), ele diz: ‘O espírito científico, fortemente armado com seu método, não existe sem a religiosidade cósmica’. Outra de suas frases é a seguinte: ‘Penso 99 vezes e nada descubro. Deixo de pensar, mergulho no silêncio, e a verdade me é revelada’.”

“Essa reflexão sobre o que mudar e em que nível é salutar para começar a limpar o terreno para as mudanças reais que precisam ser implementadas. No fundo, trata-se do clássico mecanismo de luta e fuga: enfrentar o que é necessário, alterar o que for possível e ter serenidade e sabedoria a fim de permitir o curso do que não pode ser alterado.”

“Como é o nascimento de uma nova ideia? Há muitos equívocos relacionados à criatividade, mas talvez o principal deles seja o de que se trata de geração espontânea, algo que cai do céu como um raio ou surge como um estalo. É claro que isso pode ocorrer, mas os estudos sugerem que mais do que a chegada a um lugar brilhante em si, a criatividade é um processo.”

“Um grande mito associado à criatividade é o de que prazos curtos e pressão ajudam no nascimento de ideias. A hipótese foi negada pela psicóloga estadunidense Teresa Amabile, da Havard Business School (EUA). Ela avaliou 12 mil trabalhos sobre o tema e concluiu que, apesar do que muita gente acredita, a pressa é inimiga da criatividade. Ao contrário. A incubação é parte importante do processo e, para que as ideias amadureçam, é preciso tempo. Correr contra o relógio só funciona para pessoas altamente concentradas, que não perdem tempo com distrações.”

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Água para elefantes

Gruen, Sara. Água para elefantes. Sextante; Rio de Janeiro / RJ; 2011; 272 páginas.

Dados da obra:

Jacob Jankowski é um senhor que vive numa casa de repouso. Por 70 anos ele guardou um segredo: quando jovem trabalhou num circo. Ainda estudante de veterinária, Jacob perdeu os pais num acidente de carro. Transtornado e sem dinheiro, ele larga a faculdade nos exames finais e entra em um trem em movimento - o Esquadrão Voador do circo Irmãos Benzini, o Maior Espetáculo da Terra. Ali ele é contratado para cuidar dos animais, mas sofrerá nas mãos de August, o chefe do setor dos animais, e marido de Marlena, a estrela do circo, por quem se apaixonará. Ele ainda se encanta com Rosie, a elefanta aparentemente estúpida que deveria ser a salvação do circo. Uma história envolvente, que fala de velhice, circo, animais e amor.

Breve relato da autora:

Sara Gruen é uma escritora nascida no Canadá e com dupla-nacionalidade, canadense e estadunidense. Seus livros tratam principalmente de animais e ela é uma incentivadora de numerosas organizações de caridade que apóiam os animais e a vida destes em seu habitat natural (Wikipedia).

Passagens:

“Tenho 90 anos. Ou 93. Uma coisa ou outra.
Quando temos cinco anos, sabemos até os meses de nossa idade. Mesmo por volta dos 20 sabemos quantos anos temos. Tenho 23, dizemos, ou talvez 27. Mas quando chegamos aos 30, algo estranho começa a acontecer. A princípio, é um mero sobressalto, um instante de hesitação. Quantos anos você tem? Ah, eu tenho – você começa confiante, mas depois para. Ia dizer 33, mas não é essa a sua idade. Você está com 35 anos. E isso o incomoda, pois você fica imaginando se não é o início do fim. Claro que é, mas ainda faltam décadas para você admitir isso.”

“Sei que alguns de nós já não têm dentes, mas eu tenho, e quero carne assada. A da minha esposa, completa, com louro e gordura. Quero cenoura. Quero batata cozinha com casca. E quero um Cabernet sauvignon encorpado para fazer tudo isso descer, e não um suco de maçã em lata. Mas, sobretudo, quero milho na espiga.
Às vezes acho que se eu tivesse de escolher entre uma espiga de milho e fazer amor com uma mulher, escolheria o milho. Não que eu não fosse gostar de curtir uma última trepada – ainda sou homem e algumas coisas nunca morrem –, mas só de pensar naqueles grãos doces estourando entre os dentes fico com água na boca. É uma fantasia, eu sei. Nenhuma das duas coisas vai acontecer. Mas gosto de pesar minha opções, como se eu estivesse diante de Salomão: uma última trepada ou uma espiga de milho. Que dilema maravilhoso. Às vezes substituo o milho por uma maçã.”

“Lembro-me de sair da minha casa pela última vez, enrolado como um gato a caminho do veterinário. Enquanto o carro se afastava, meus olhos ficaram tão cheios de lágrimas que não pude olhar para trás.
Não é um asilo, disseram. É uma moradia com assistência – uma assistência progressiva, é isso. Você só recebe ajuda se precisar, e então, quando ficar mais velho...
Eles sempre interrompiam a frase nesse ponto, como se isso pudesse me impedir de concluir o raciocínio lógico.”

“Minhas banalidades não lhes interessam, e dificilmente eu poderia culpá-los por isso. Minhas histórias reais estão defasadas. E daí que eu posso falar em primeira mão da gripe espanhola, do advento do automóvel, das guerras mundiais, das guerras frias, das guerras de guerrilha e do Sputnik? Agora, tudo isso é história antiga. Mas o que mais eu tenho a oferecer? Nada de novo me acontece. Essa é a realidade do envelhecimento, e acho que essa é a questão essencial. Ainda não estou preparado para ser velho.”

“Abro a jaula do orangotango-fêmea e deposito uma vasilha com frutas, verduras e nozes no chão. Ao fechá-la, o braço comprido do bicho passa pelas barras da jaula. E ele aponta para um laranja em outra vasilha.
– Essa? É essa que você quer?
Ela continua a apontar, piscando para mim seus olhos muito próximos um do outro. As feições são côncavas, a cara parece um prato grande com uma franja avermelhada, É a coisa mais terrível e mais bela que já vi.
– Tome – digo, entregando-lhe a laranja. – É sua.
Ela a pega e a põe no chão. Em seguida coloca o braço para fora de novo. Depois de alguns segundos de muito receio, estendo a mão. O orangotango-fêmea envolve a minha mão com seus dedos compridos e depois a solta. Então se senta nas ancas e descasca a laranja.
Olho assombrado. Ela estava me agradecendo.”

“Meu pai achava que era seu dever continuar cuidando dos animais mesmo muito depois de deixar de ser pago por isso. Ele não podia ficar parado diante de um cavalo com cólicas ou de um bezerro nascendo na posição errada, mesmo que isso significasse um enorme prejuízo pessoal. A comparação é inevitável. Não há dúvida de que sou a única proteção desses animais contra a prática empresarial de August e do Tio Al, e o que meu pai faria – o que meu pai gostaria que eu fizesse – seria cuidar deles e essa é a minha convicção absoluta e inabalável. Não importa o que eu tenha feito na noite passada, não posso abandoná-los. Sou o pastor, o protetor deles. E é mais que um dever. É um compromisso com meu pai.”

“A girafa é medrosa e bela e, provavelmente, a criatura mais estranha que já vi. As pernas e o pescoço são delicados, o corpo é inclinado e coberto com pintas que parecem pequenas peças de quebra-cabeça. No topo de sua cabeça triangular, acima das grandes orelhas, veem-se estranhas protuberâncias peludas. Os olhos são enormes e escuros, e ela tem os lábios macios e aveludados de um cavalo. Seguro-me em seu cabresto, mas a girafa permanece quieta durante quase todo o tempo enquanto limpo suas narinas e envolvo seu pescoço com uma flanela. Quando termino, desço a escada.”

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Fonchito e a Lua

Llosa, Mario Vargas. Fonchito e a Lua. Editora Objetiva; Rio de Janeiro / RJ; 2011; 32 páginas.

Dados da obra:

Primeiro livro infantil de Vargas Llosa, Fonchito e a Lua narra a história do menino que morria de vontade de dar um beijinho no rosto de Nereida, sua amiga da escola. Ela, no entanto, só aceitará se Fonchito puder lhe trazer a lua. O menino, então, tenta encontrar uma forma de atender ao pedido de Nereida.

Breve relato do autor:

Mario Vargas Llosa é um escritor, jornalista, ensaista e político peruano, que ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 2010. Ele alcançou notoriedade literária com a publicação do romance A Cidade e os Cães (1961). Mudou para Paris nos anos de 1960, e lecionou em diversas universidades americanas e europeias, ao longo dos anos.

Passagens:

“Nereida, um pouquinho vermelha, olhou para ele muito séria antes de responder:
– Eu deixo se você trouxer a Lua para mim.
Fonchito ficou triste e desanimado.
Será que essa resposta significava que Nereida nunca ia deixar que ele lhe desse um beijinho?
Mas a partir desse dia começou a fazer uma coisa que nunca fazia antes, ficava um tempão, na varanda ou no terraço de sua casa, contemplando a Lua, deslumbrado. Quer dizer, quando a Lua aparecia, coisa que raramente acontece na cidade de Lima, cujo céu costuma ficar nublado durante meses a fio.”