sexta-feira, 17 de junho de 2011

Talvez uma história de amor

Page, Martin. Talvez uma história de amor. Rocco; Rio de Janeiro / RJ; 2009; 160 páginas.

Dados da obra:
A história gira em torno de Virgile, um anti-herói distraído, contraditório e solitário, que um dia chega em casa do trabalho e ouve em sua secretária eletrônica um recado de alguém, uma mulher, Clara, terminando o relacionamento com ele. O problema é que Virgile não tem a menor ideia de quem seja ela. A princípio deprimido e esquivo, Virgile decide dar uma reviravolta em sua vida e tenta encontrar Clara para saber o que aconteceu.
Breve relato do autor:

Martin Page é um escritor francês, autor do romance best-seller Como me tornei estúpido, que ganhou o euroregional, prêmio literário concedido a estudantes belga, holandês e alemão.

Passagens:

“Sim, Paris era cara, estressante, cada vez menos popular, o trânsito era difícil, e o ar, poluído. Mas continuava a ser a cidade com a maior quantidade de salas de cinema e de farmácias do mundo. Além disso, Virgile gostava das constantes manifestações de estudantes, de desempregados, de assalariados, de aposentados, das pessoas sem documentos. Em sua opinião, não havia melhor maneira de conhecer a cidade do que misturar-se a essa multidão alegre e combativa. As passeatas coloridas e desordenadas deixavam-no orgulhoso de sua cidade. Desfrutava delas com belas irrupções florais em pleno asfalto que bloqueavam a passagem dos carros, interrompiam a vida normal de quarteirões inteiros e faziam os policiais sair de seus furgões. Cidade de resmungões e de manifestantes, ninho de grandes sublevações. Paris nunca era mais real e mais bela do que quando resistia.”

“... Virgile não admitiria isso para ninguém, mas gostava de ir ao McDonald´s. Não era um local agradável ou bonito, mas sentia-se me casa ali. Se Hemingway desembarcasse em Paris nos dias de hoje, já não teria recursos para frequentar os cafés como fazia na década de 1920. O único canto onde poderia se instalar para beber um café e escrever seria o McDonald´s. Em nenhum outro lugar uma pessoa pode se refugiar no calor durante horas por uma quantia módica. Os pobres, os estudantes e o pessoal da periferia sabiam muito bem disso: podem-se checar e-mails, estudar para uma prova ou para as aulas, escrever; os moradores de rua leem os jornais de distribuição gratuita e fingem beber alguma coisa de um copo que pegaram de uma bandeja...”

“...Virgile estava diante de uma mulher nitidamente inimaginável. A imaginação não brota ex nihilo; ela precisa de uma matéria para transformar. E Virgile não tinha nenhum sinal à sua disposição, a mínima partícula ou pigmento de que pudesse se servir para compor uma pintura de Clara. Certamente, poderia fazer dela um retrato perfeito; ela seria tudo aquilo que ele desejava encontrar em uma mulher. Mais ele estava bem precavido quanto aos riscos desse tipo de concepção. Espontaneamente, quando imaginamos o nosso parceiro ideal, desenhamos a nós mesmos, sem as lacunas ou as fragilidades e com o sexo que mais nos convenha.”

“Aceitar a proposta de Svengali evitaria que Virgile entrasse em um conflito, seu mundo preservaria a sua honestidade, e sua vida a sua ataraxia. O ser humano obedece para não morrer. É o teorema da criança bem comportada: se você se comportar bem, terá boas notas, uma profissão, uma casa, uma mulher, e nem você nem nenhuma das pessoas que você ama morrerão. Acabamos descobrindo, no fim, que se trata de uma bobagem, mas não funciona por muito tempo.”

“... a lasanha era resultado de uma conspiração internacional. As massas  foram inventadas na China; os tomates vêm da América; as cebolas, da África ocidental; o alho, do Egito (os operários que construíram Gizé consumiam enormes quantidades disso). Virgile agradeceu interiormente a Quentin ter assumido a condução da conversa e tê-la dirigido naquela forma agradável. Sentia-se abrigado e agasalhado.”

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