Saramago, José. Alabardas, alabardas. Espingardas,
espingardas. Companhia das Letras; São Paulo / SP; 2014; 111 páginas.
Breve relato do autor:
José Saramago foi um escritor, argumentista,
teatrólogo, ensaísta, jornalista, dramaturgo, contista, romancista e poeta
português. Recebeu o Prêmio Nobel de Literatura de 1998 e o Prêmio Camões.
Dados da obra:
Antes
de morrer, José Saramago deixou um projeto inconcluso no computador: Alabardas, alabardas, espingardas, espingardas –
no qual criava a história de Artur Paz Semedo, um homem comum que trabalha na
fábrica de armas Produções Belona S.A.
Funcionário exemplar, Semedo era casa com Felícia, uma pacifista radical.
Funcionário exemplar, Semedo era casa com Felícia, uma pacifista radical.
Passagens:
Qual deles vou
levar, perguntou o livreiro. Arthur paz semedo conservava algumas luzes da
língua de moliére, herança difusa dos seus tempos de liceu, mas temeu que a
escrita do autor estivesse muito acima das suas capacidades de compreensão e
optou por uma solução salomônica. Levo os dois.
... É uma história
comovedora, sobretudo aquela descida da serra de teruel. Custa a segurar as
lágrimas, é certo, Eu confesso que chorei, disse Arthur paz semedo. Já to
disse, também eu, disse felícia. Houve um silêncio. Podia-se pensar que estavam
contentes por terem partilhado uma emoção tão forte, quem sabe se por
coincidência sentados na mesma cadeira do cinema, mas nunca o reconheceriam,
fazê-lo seria dar uma mostra de debilidade sentimental de que o outro poderia vir
a aproveitar-se.
... Não procures
encomendas assinadas pelo general franco, nas as encontrarias, os ditadores só
usam a caneta para assinar condenações à morte. E desligou antes de que ele
pudesse responder.
... Estou no
arquivo, disse ele, e ela, de lá, Fala mais alto, parece que estás no fundo de
um túmulo. Mas ela sabia quanta razão tinha, aquelas prateleiras, vergadas ao
peso dos papéis, estavam carregadas de mortos que talvez tivesse sido
preferível deixar entregues ao sono eterno em vez de os arrancar da obscuridade
e da importância resignada em que permaneciam há quase um século.