quarta-feira, 9 de março de 2011

De Bagdá com muito amor

Kopelman, Jay; Roth, Melinda. De Bagdá com muito amor. Editora Best Seller; Rio de Janeiro/ RJ; 2007; 218 páginas.

Dados da obra:

No início da ocupação norte-americana, na cidade de Faluja, Iraque, um grupo de fuzileiros encontram um cãozinho abandonado, em meio a uma cenário de destruição e morte. Adotado pela tropa, o pequeno Lava conquista Jay Kopelman, um tenente-coronel, que vai mover céus e terras para tentar levar o animalzinho para os Estados Unidos. A história de amor entre um um homem e um cão, e como este ajudou a amenizar os terrores da guerra entre aqueles que com ele conviveram.

Breve relato do autor:

Jay Kopelman é um ex- tenente-coronel do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos; Melinda Roth é jornalista e autora de The Man Who Talks to Dogs.

Passagens:

“Ken tinha sorte. Na verdade, era um homem abençoado. Tinha começado a trabalhar com cachorros em 1977, como adestrador e tratador da polícia da Força Aérea, e percebeu imediatamente que os cães garantiam a sanidade dos homens. Inicialmente, achou que a concentração necessária a um bom adestrador e tratador exigisse equilíbrio mental, mas, ao longo dos anos – e do trabalho no Serviço Secreto, na segurança de presidentes e personalidades estrangeiras, dos Jogos Pan-americanos e do Papa, com seus cães e adestradores –, Ken aprendeu que era mais do que isso.
Quando você passa toda a carreira no meio da violência, os cães o ajudam a lembrar que ainda é humano.”

“Se um cão ‘inapto’ for considerado ‘adotável’ – isto é, se ele não estiver propenso a invadir playgrounds para atacar criancinhas sem ser provocado – e se quem o adotar compreender os riscos envolvidos – isto é, se entender que pode acontecer que crianças pequenas o provoquem e ele invada o playground e as ataque –, esse novo dono assinará um acordo que absolve o departamento de Defesa de qualquer responsabilidade por danos ou ferimentos que o cão possa causar.
A maioria, no entanto, é considerada ‘não-adotável’. Esses são os cães cuja vida foi devotada a executar comandos perfeitamente, que se dedicaram completamente aos militares, a quem obedeceriam até a morte. Os cães mais fiéis, mais confiáveis, mais patrióticos do grupo. Por isso é expedido um documento de ‘disposição final’ para que seja praticada a eutanásia.”

“No fim de semana, Anne me envia outro e-mail.
Ele hoje salvou minha sanidade. Estava cheia de tudo isso aqui e de todo o meu trabalho, mas fui para casa e fiquei brincando com ele.
Imagino que a presença de Lava nas instalações da rádio proporciona a todos os humanos uma fuga temporária da realidade e os leva através de vários pontos de controle até a terra do faz-de-conta, onde os cachorrinhos saltitam em gramados verdes e macios e está um lindo dia na vizinhança.”

“Ele é assim. Tudo o que Lava faz é intenso. Quando come, ele suspira. Quando se sente solitário, geme. Quando está cansado, deita-se e, em poucos segundos, já está roncando. Quando quer brincar, fica saltando diante de você, morde os laços de seus coturnos, não se aquieta, não pede desculpas, simplesmente usa tudo o que pode para atrair sua atenção.”

“...quero Lava vivo. Não importa o quanto a situação esteja ruim, ainda vale a pena estar vivo. Quero acreditar que ele ainda está respirando, saltando atrás das nuvens de poeira e perseguindo inimigos imaginários em seus sonhos. Quero que ele fique vivo, porque assim, ainda haverá esperanças de que consiga chegará à Califórnia e passe a ser um cachorro norte-americano que corre na praia e persegue o carteiro, em vez de desconhecidos com armas. Mais do que qualquer outra coisa, quero que ele fique vivo porque, devo confessar, antes de Lava eu era um fuzileiro de quem não se esperava qualquer reflexão sobre a vida e a morte. Eu carregava uma mochila repleta de cupons que valiam a absolvição. Agora, depois de conhecer Lava e deixar o medo tomar conta de mim, percebo uma vaga semelhança entre um assassino em série e eu.”

”A expressão dos olhos de Lava ao saltar em minha direção tão depressa quanto lhe permitem as pernas é uma versão mais madura do olhar dele para mim no dia em que o empurrei com o coturno pelo chão no posto de comando; uma evolução do olhar dele para mim quando entrei no posto dos Cães de Lava e ele fez aquele xixi de submissão; a segunda parte daquele olhar patético, suplicante de quando eu o traí na fronteira com a Jordânia ao metê-lo de novo no engradado daquele motorista malvado.”

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