quarta-feira, 13 de março de 2013

Reparação


McEwan, Ian. Reparação. Companhia das Letras. São Paulo/SP; 2002; 444 páginas.

Breve relato do autor:

Ian McEwan é um escritor britânico, chamado por vezes de “Ian Macabro”, devido à natureza das suas primeiras obras, e que de romance a romance se tem convertido em um dos mais conhecidos da sua geração.

Dados da obra:

Na tarde mais quente do verão de 1935, na Inglaterra, a adolescente Briony Tallis vê uma cena que vai atormentar a sua imaginação: sua irmã mais velha, sob o olhar de um amigo de infância, tira a roupa e mergulha, apenas de calcinha e sutiã, na fonte do quintal da casa de campo. A partir desse episódio e de uma sucessão de equívocos, a menina, que nutre a ambição de ser escritora, constrói uma história fantasiosa sobre uma cena que presencia. Comete um crime com efeitos devastadores na vida de toda a família e passa o resto de sua existência tentando desfazer o mal que causou.

Passagens:

Uma história era algo direto e simples, que não permitia que nada se intrometesse entre ela e seu leitor – nenhum intermediário incompetente e cheio de ambições próprias, nenhuma pressão do tempo, nenhuma limitação de recursos. Na história era só querer, era só escrever e ter um mundo inteiro, numa peça era necessário utilizar o que estava disponível: não havia cavalos, não havia ruas, não havia mar. Não havia cortina...”.

Não eram só o mal e as tramoias que tornavam as pessoas infelizes; era a confusão, eram os mal-entendidos; acima de tudo, era a incapacidade de apreender a verdade simples de que as outras pessoas são tão reais quanto nós. E somente numa história seria possível incluir essas três mentes diferentes e mostrar como elas tinham o mesmo valor. Essa era a única moral que uma história precisava ter.

A excitação que ele sentia assemelhava-se a dor e era exacerbada pela pressão das contradições: Cecília era familiar como uma irmã, exótica como uma amante; ele sempre a conhecera, ele não sabia nada sobre ela; ela era feia, ela era bela; era forte – com que facilidade se defendera do irmão – e, vinte minutos antes, havia chorado; a carta idiota de Robbie a repugnara, porém tivera o efeito de libertá-la. Ele lamentava seu erro, ele exultava por tê-lo cometido...

Os gêmeos não corriam perigo; Cecília estava com Leon, e ela, Briony, tinha liberdade de andar pelo parque escuro e pensar sobre o dia extraordinário que tivera. Sua infância chegara ao fim – decidiu enquanto voltava da piscina, no momento em que rasgou o cartaz. Havia deixado para trás os contos de fadas, e no intervalo de umas poucas horas havia testemunhado mistérios, lido uma palavra indizível, interrompido uma brutalidade e, tornando-se alvo do ódio de um homem em quem todos até então confiavam, passara a participar do drama da vida adulta...

Estavam se aproximando das últimas casas da vila. Num campo mais adiante, Turner viu um homem e seu collie caminhando atrás de um arado puxado por um cavalo. Tal como as mulheres na sapataria, o fazendeiro parecia não se dar conta da presença da coluna. Essas vidas eram vividas em paralelo – a guerra era um hobby para entusiastas, e nem por isso deixava de ser uma coisa séria. Tal como, no momento mais intenso de uma caçada, quando os cães se preparavam para lançar-se sobre a presa, do outro lado da sebe passa um automóvel no qual, no banco de trás, uma mulher faz tricô, e no jardim de uma casa nova um homem ensina o filho a chutar a bola. O fazendeiro continuaria a arar o campo, depois haveria alguém para fazer a colheita, alguém para processar o trigo no moinho, outras pessoas comeriam o pão, e nem todo mundo estaria morto...

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