quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

A morte de Ivan Ilitch


Tolstói, Lev. A morte de Ivan Ilitch. Editora 34. São Paulo/SP; 2006; 96 páginas.
 
Breve relato do autor:
  
Lev Tolstói foi um escritor russo, conhecido também por tornar-se, na velhice, um pacifista, cujos textos e ideias contrastavam com as igrejas e governos, pregando uma vida simples e em proximidade à natureza. Junto a Dostoiévski, Turgueniev, Gorki e Tchecov, Tolstói foi um dos grandes mestres da literatura russa do século XIX.

Dados da obra:
 
 É um romance publicado pela primeira vez em 1886. Trata-se sobre a morte do juiz Ivan Ilitch, sua vida antes e durante. Segundo Paulo Rónai, muitos críticos consideram-na como "a novela mais perfeita da literatura mundial; a agonia de um burocrata insignificante serve de pretexto ao autor para nos contar uma história que diz respeito ao destino de cada um de nós e que é impossível ler sem um frêmito de angústia e de purificação".
 
Passagens:
 
Piotr Ivânovitch sabia que, assim como antes fora necessário fazer o sinal da cruz, agora era preciso apertar aquela mão, suspirar e dizer: “Creia-me!”. E foi o que fez. E, depois de fazê-lo, sentiu que obtivera o efeito desejado: ambos ficaram comovidos.
  
Morria aos quarenta e cinco anos, juiz do Foro Criminal. Era filho de um funcionário, que fizera em Petersburgo, em diferentes ministérios e departamentos, aquele tipo de carreira que leva as pessoas a uma situação da qual elas, por mais evidente que seja a sua incapacidade para qualquer função de efetiva importância, não podem ser expulsas, em virtude dos muitos anos de serviço e dos postos alcançados, por este motivo, recebem cargos inventados, fictícios, e uns não fictícios milhares de rublos, de seis a dez, com que vivem até a idade provecta.
  
... Ivan Ilitch jamais abusou desta sua autoridade e, pelo contrário, procurava atenuar a sua manifestação; mas a consciência dessa autoridade e a possibilidade de atenuá-la constituíam para ele o interesse principal e a atração do seu novo encargo...
  
Na realidade, havia ali o mesmo que há em casa de todas as pessoas não muito ricas, mas que desejam parecê-lo e por isto apenas se parecem entre si: damascos, pau-preto, flores, tapetes e bronzes, matizes escuros e brilhantes; enfim, aquilo que todas as pessoas de determinado tipo fazem para se parecer com todas as pessoas de determinado tipo. E em casa dele, a semelhanças era tamanha que não se chegava mesmo a percebê-lo, mas tudo isso parecia-lhe algo peculiar...
  
“Eu não existirei mais, o que existirá então?
Não existirá nada. Onde estarei então, quando não existir mais? Será realmente a morte?
Não, não quero.”... “Para quê? Tanto faz – disse a si mesmo, perscrutando a treva, os olhos abertos. – A morte. Sim, a morte. E nenhum deles sabe nem quer saber, e nem lamenta isso. Ocupam-se de música. (Ouvia, atrás da porta, distantes, o retumbar de uma voz, acompanhado de ritornelos). Para eles, tanto faz, mas também eles hão de morrer. Bobalhões. Eu vou primeiro, eles depois, hão de passar pelo mesmo que eu. E, no entanto, estão alegres. Animais!”. Sufocava de raiva. Teve uma sensação penosa, torturante, intolerável. Não podia ser verdade que todos estivessem condenados para sempre a este medo terrível. Levantou-se.”
 
A partir de então, Ivan Ilitch chamava às vezes Guerássim, fazendo-o segurar os seus pés sobre os ombros, e gostava de conversar com ele. Guerássim fazia isto com leveza, de bom grado, com simplicidade e uma bondade que deixava Ivan Ilitch comovido. A saúde, a força, a vitalidade de todas as demais pessoas ofendiam Ivan Ilitch; somente a força e a vitalidade de Guerássim não o entristeciam, e sim acalmavam-no.

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