Rowling,
J. K. Morte súbita. Nova Fronteira. Rio
de Janeiro / RJ; 2012; 501 páginas.
Breve relato do autor:
J. K. Rowling
é uma escritora britânica de ficção, autora dos sete livros da famosa e
premiada série Harry Potter, e de
três outros pequenos livros relacionados a Harry Potter. Muitos autores
influenciaram sua obra.
Dados da obra:
O livro
conta a história de Pagford e seus habitantes, que, após a morte inesperada de
Barry Fairbrother, membro da Câmara do vilarejo, fica em choque.
Passagens:
Na sua
opinião, o maior erro de noventa e nove por cento das pessoas é ter vergonha de
serem quem são, é mentir a esse respeito, fingindo ser alguém diferente. A
honestidade era a sua marca, a sua arma, a sua defesa. Quando somos honestos,
as pessoas se assustam, ficam chocadas. Bola descobriu que tem gente que fica
aferrada a constrangimentos e falsas aparências, morrendo de medo que as suas
verdades possam se espalhar. Ele, porém, gostava mesmo era das coisas nuas e
cruas, de tudo que fosse feio, mas honesto, das coisas sujas que faziam pessoas
como o seu pai se sentirem humilhadas e enojadas. Pensava muito sobre messias e
párias, sobre homens que eram taxados de loucos ou criminosos, nobres marginais
rejeitados pelas massas inertes.
...
Lembrava-se de ter dito a uma menina bem gorducha, lá no serviço de orientação
educacional, que a aparência não tinha a menor importância, pois o que contava
mesmo era a personalidade. Quanta
besteira a gente diz para as crianças, pensou ela, virando a página da
revista.
... Tinha
despejado nos ouvidos de Barry verdades e segredos que jamais confiara a nenhum outro amigo, e aqueles olhinhos castanhos,
brilhantes como os de um rouxinol, nunca deixaram de olhá-lo de um jeito amável
e caloroso. Barry foi o melhor amigo que Colin teve na vida. Com ele, vivenciou
um tipo de camaradagem masculina que jamais havia encontrado antes de vir morar
em Pagford e que, tinha certeza, nunca mais voltaria a encontrar. O fato de
alguém como ele, que se sentia um esquisitão meio excluído, para quem a vida
era uma luta diária, ter conseguido ficar amigo daquele eterno otimista, tão
animado e popular, sempre lhe parecera um pequeno milagre...
... Gaia tinha
um jeito de andar que mexia com ele tanto quanto música, a coisa que o tocara
mais que tudo no mundo. Com toda a certeza, o espírito que animava aquele corpo
incomparável só podia ser também algo fora do comum. Por que a natureza faria
um frasco como aquele se não fosse para lhe dar um conteúdo ainda mais
precioso?
Sukhvinder
escutava fascinada, mas sem admitir que já tinha visto Marco na página do
Facebook da sua nova amiga. Não havia nenhum garoto como ele em toda a
Winterdown: ele se parecia com Johnny Depp.
Podia ter
ficado em casa, ao lado de Vikram, que estava assistindo a uma comédia na
televisão com Jaswant e Rajpal quando ela saiu. O som da risada deles a abalou.
Quando foi que ela tinha rido pela última vez? Por que estava ali, bebendo um
vinho horroroso, lutando por uma clínica de que nunca ia precisar e pela
moradia de pessoas de quem provavelmente não gostaria, se as conhecesse?
No
Smithy, a alguns quilômetros do centro de Pagford, Gavin Hughes se ensaboava
sob a ducha quente perguntando-se por que jamais tivera a coragem de outros
homens, e como eles conseguiam fazer a escolha certa entre alternativas quase
infinitas. No fundo desejava uma vida que havia vislumbrado, mas jamais
experimentara. No entanto, essa mesma vida desejada o assustava. Escolher é
algo perigoso: quando escolhemos, temos que abrir mão de todas as outras
possibilidades.
Não
conseguiu se impedir de acrescentar essa mentira. Hoje, pela primeira vez, teve
certeza de que era mentira, e também
de que tudo o que ela havia feito na vida, dizendo a si mesma que era o melhor
caminho a tomar, não passou de um egoísmo cego, que só provocou transtornos e
confusão à sua volta. Mas quem pode
suportar que algumas estrelas já morreram, pensou ela, piscando os olhos para o
céu; quem pode suportar saber que todas elas morreram?
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