quinta-feira, 6 de junho de 2013

Deslimites - Metáforas do Cotidiano


Damante, Juliana. Deslimites. Ed. Do Autor. Campinas /SP; 2012; 187 páginas.

Breve relato da autora:

Juliana Damante é jornalista e pós-graduada em Jornalismo Literário pela Academia Brasileira de Jornalismo Literário.

Dados da obra:

Olhares a respeito de alguns segundos: parar e reparar. O livro traz um cotidiano de narrativas da vida real, histórias autobiográficas e visões de uma realidade rabiscada a partir de relatos mais humanos e sensíveis.

Passagens:

Terça é Feira. Enquanto as frutas estão novas e com gotículas da água que o feirante jogou por cima, para que os vegetais fiquem com ar de frescos e convidativos, os senhores e senhoras arrastam os carrinhos, de feira. A criança corre atrás da pomba, gritando para que voe, voe logo, bem alto. Depois ri... O óleo dos pastéis está borbulhante e muitos escolhem-no para forrar o estômago de café da manhã. Outros caminham, caminham, circulam, olham o morango vermelho por cima e verde por baixo, a manga cheirosa, o abacaxi já cortado em fatias suculentamente ácido, as maças tão perfeitas quanto a da Branca de Neve, o cheiro forte do peixe fresco já com as moscas a rondar, os queijos e laticínios naturais sem soda caústica, a banana amarela cheia de pintas no ponto, a melancia vermelha inteira por dentro e verde listrada por fora.

Mal terminou de dizer a última sílaba e eu sorri ao mesmo tempo em que meus olhos se fecharam por segundos, na doce lembrança do que não vivi, ouvi, nem vi na infância, mas rememorei dos registros em preto e branco dos livros e dos arquivos da TV e recordei do esplendoroso sorriso das mãos dançantes de Carmem Miranda. Carmem da audácia e brasilidade de mulher. Hoje, ligo as rádios e não encontro nem as Carmens, nem as Mirandas, nem a Conceição.

Olhei pra ele e agradeci duas vezes. Uma pela gentileza, outra por ter reparado que alguém precisava de ajuda.
Rodoviária é assim, histórias que se cruzam, caminhos que vão e partem, saudades, lembranças, gentes, mentirosos, loucos, mas o melhor: muita bagagem.

Passa-se mais horas em frente ao computador.
Menos horas em frente aos olhos de alguém.
Isso, por um lado, significam algumas virtudes, bastante trabalho.
Mas o balanço e o equilíbrio são essenciais.
Tá tudo longe.
Todos virtualmente vivendo, apenas.
E só.
E assim, bastam-se comentários, conversas, observações, lembretes, sonhos, ideais, vontades.
Ciber-espaço
Cold-play.

A pessoa é para o que nasce.
Transbordei.
Têm dias que você procura um filme e não acha.
Têm dias que os filmes procuram você e não encontram.
Ás vezes estão escondidos nas prateleiras ou a película derreteu.
Ás vezes me jogo dentro de mim e não me acho, mas achei e me acharam. As três senhorinhas desse longa.
“A pessoa é para o que nasce”.
Vale a pena sentir.
Manoel de Barros também me achou.
Estávamos brincado de esconde-esconde.
Há tempo o queria mais perto, aqui comigo.
De sebo em sebo não cheguei perto.
Mas em uma livraria ouvi meu nome, olhei para trás, era ele. Em duas versões. “Memórias inventadas...”

Quando meu avô foi pro céu, há 12 anos, eu achava que ele ia.
Quando minha avó foi pro céu, há uma semana, eu também achava que ela ia.
Quando meu avô chegou, ele recebeu um pacote de pururuca e uma pinguinha.
Quando minha avó chegou, ela recebeu um abraço do meu avô, e um caderninho com probleminhas de matemática.
Aí os dois se abraçaram, e voltaram a viver juntos...
... A vida vem,
a vida vai
Quando vem é tão bonita.
Quando vai é tão triste.
Infeliz o ocidental que inventou velar algo já ido.
Feliz a alma que sabe sorrir a expectativa da não dor.
O material fica, é pueril.
A alma que vai, é sutil.
Roda mundo, roda gigante.
 
... Reinventar
Sabe? Reviver, todos os dias.
É por isso que escolhi ser jornalista. Como diz minha querida Eliane Brum, se eu não sair de uma entrevista transformada, é melhor eu escolher outra profissão.

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