Villoro, Juan. O Livro Selvagem. Leya; São Paulo / SP;
2011; 112 páginas.
Breve relato do autor:
Natural da Cidade do
México, Juan Villoro estudou sociologia na Universidad Autónoma Metropolitana.
Foi professor de literatura na Universidad Nacional Autónoma de México e
professor convidado em Yale, Princeton, Boston e na Universitat Pompeu Fabra,
em Barcelona, onde mora.
Dados da obra:
Juan tem treze anos e vai passar as férias com seu tio Tito,
um sujeito excêntrico, apaixonado por livros. Ele considera Juan um leitor
especial e, por isso, pede sua ajuda para encontrar uma obra singular entre as
milhares que tem em sua casa: O livro selvagem, que nunca foi lida por ninguém
e que guarda um segredo destinado àquele que a encontrar. Enquanto busca, Juan
conhece Catalina, a menina que trabalha na farmácia em frente da casa de seu
tio, com quem começa uma amizade especial.
Passagens:
Também odiei saber
que meu pai ia construir uma ponte lá. Seria uma ponte que se levantava para os
barcos passarem, com certeza. Essa era sua especialidade. Eu preferia as pontes
que não se separavam e que continuavam firmes e fixas, ligando as duas margens.
Fiquei bem em frente
a Austrália. Falei que era meu país preferido.
– Uma grande
escolha, meu querido sobrinho – comentou meu tio. – Não há muita cultura ou
muitas antiguidades nesse deserto vermelho, mas é a casa do ornitorrinco, o
animal mais fabuloso de todos, um resumo biológico, uma enciclopédia do qu7e se
pode ser sem sê-lo por completo: o ornitorrinco poderia ser um pato, um castor
ou uma marmota. Seu segredo está em se disfarçar de outros animais para ser ele
mesmo. Um grande ator coadjuvante.
– E você leu todos
eles?
– Claro que não. Uma
biblioteca não é para ser lida por completo, mas sim para ser consultada. Os
livros estão aqui para o caso de serem necessários. Li minha vida toda, mas há
muitos assuntos sobre os quais não sei nada. O importante não é ter tudo na cabeça, e sim saber onde encontrar uma informação. A
diferença entre um arrogante e um sábio é que o arrogante só aprecia o que já
sabe, enquanto o sábio busca o que ainda não conhece.
... – Há duas
maneiras de um livro chegar até você: a normal e a secreta. A normal é aquela
em que você o compra, ou alguém lhe dá ou empresta. Já a secreta é muito mais
importante: nesse caso, é o livro que escolhe o seu leitor. Às vezes as duas
maneiras se confundem. Você acha que decidiu comprar um determinado livro, mas
na verdade foi ele que se colocou ali para que você o enxergasse e se sentisse
atraído.
... – Cada livro é
como um espelho: reflete o que você pensa. Será diferente para um leitor herói
e para um leitor vilão. Os grandes leitores adicionam algo aos livros, os
melhoram.
– Ah, o senhor
Samsa. É um dos grandes mistérios da humanidade. O escritor disse que ele se
transformou em um inseto, mas não deu mais detalhes. Alguns especialistas acham
que talvez ele tenha virado um desses escaravelhos que moram entre as vigas de
madeira, típico das casas velhas de Praga, onde a história se passa. Mas os
seres humanos têm suas ideias fixas. Kafka escreveu “inseto” e todos imaginaram
que se tratava de uma barata nossa inimiga mais repugnante.
– Um livro nunca é
só um livro. Você sabe disse melhor que qualquer outra pessoa.
As árvores são como
os livros: quem se atreve a queimar um, corre o risco de queimar todos os
outros.
Todo livro está
adormecido até que um leitor o acorde.
As pessoas ficavam
de cama para se curar de uma doença. Eu fiz o mesmo, mas o meu remédio foi a
leitura.
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