Schumacher, Michael.
Will Eisner – um sonhador nos quadrinhos.
Biblioteca Azul - Globo; São Paulo / SP; 2013; 408 páginas.
Breve relato do autor:
Michael Schumacher é
um autor norte-americano, que tem mais de dez livros publicados. Entre eles,
biografias de Allen Ginsberg, Eric Clapton, Phil Ochs, George Mikan e Francis
Ford Coppola.
Dados da obra:
Will Eisner foi um
pioneiro que alçou as HQs ao status de “nona arte”. A biografia Will Eisner: um
sonhador nos quadrinhos traça a longa trajetória de vida, arte e trabalho desse
cartunista que fez das ruas de sua Nova York um rebuscado mundo de paixões,
frustrações, alegrias, medos e experiências. E também trata de um dos períodos
menos conhecidos da carreira do artista, os vinte anos que desenhou e editou
manuais educativos para o Exército.
Passagens:
“A cidade para mim,
é um grande teatro”, dizia ele. “É uma fonte inesgotável de histórias,
principalmente por causa de grande concentração de seres humanos, cuja vida tem
impacto uma sobre a outra. E cada ser humano traz consigo uma história
completa. É a luta pela existência.”
... Billy chegava em
casa com cortes, machucados, olho roxo, ainda nervoso com a última lista de
insultos que lhe haviam jogado na cara, e a única reação de seu pai era dizer
que intolerância, infelizmente, era algo que fazia parte de viver numa cidade
com gente tão variada. Sam explicava que os italianos e irlandeses que pegavam
Billy para vítima já tinham sido, eles mesmos, vítimas de preconceito.
“... A noção mais
básica do processo criativo é que a arte é a expressão do indivíduo em comunhão
com as musas. Will representava algo bem mais complicado: uma forma de fazer
arte colaborativa, cooperativa, a mistura de arte e comércio de maneira que um
não negava nem corrompia o valor do outro.”
Tudo levava a crer
que a tranquila vida suburbana da Eisner, quando longe do trabalho, fora
projetada por um home que queria evitar uma reprise de sua própria infância.
White Plains, a uma curta viagem de trem de Manhattan, vangloriava-se de suas
ruas arborizadas, uma família em cada residência, boas escolas, e a sensação de
ordem que fazia falta no tráfego apressado dos pedestres, nas buzinas dos
carros e entre as luzes de neon 24 horas da cidade e o subúrbio –, ma sua
esposa estava contente em fugir da cidade de sua juventude para dar uma vida
mais idílica aos dois filhos. Eisner deleitava-se com a energia de Nova York,
mas também estava determinado a cuidar para que seus filhos nunca passassem por
nada da vida que ele conhecera crescendo nos cortiços.
Uma questão
importante fez a balança pender a favor de War4ren: “Eu me sentia melhor
lidando com uma editora pequena por questões práticas”, Eisner viria a
explicar. “Para Jim Warren, eu era um entre quatro ativos na sua mão. Para a
Marvel, eu era um entre quatrocentos. Achei que receberia mais atenção e
cortesia de Jim Warren do que da Marvel.”
Sam Eisner, sonhador
até o fim, faleceu em 1968, aos 82, uma década antes da publicação de Um contrato com Deus e dos elogios que
se seguiram às graphic novels do
filho. Sam nunca abandonou sua paixão pela arte e pintava paisagens, algumas em
escala gigante, como se estivesse tentando expressar a extensão dos sonhos de
que nunca desistira, mesmo em idade avançada.
“Estamos acostumados
a vê-la dos arranha-céus, geralmente com uma sinfonia triste tocando de fundo,
enquanto a câmera faz uma panorâmica da cidade e você vê o topo do0sprédios.
Mas ninguém vê a cidade da mesma forma que eu – da forma que todos que vivem
nela [veem] – com os esgotos, os hidrantes, as escadarias, as filigranas, as
grades, as escadas de incêndio. É isso que a gente da cidade que vive na cidade
vê todos os dias. É isso que é a cidade.”
Neil Gaiman uma vez
perguntou a Will Eisner por que ele ainda trabalhava numa idade em que a
maioria de seus contemporâneos havia se aposentado. Eisner pensou sobre a
pergunta e respondeu citando um filme que havia assistido sobre um músico de
jazz que continuava a tocar porque estava em busca “Daquela Nota” – o símbolo
esquivo da perfeição, o indicador de que ele havia alcançado tudo o que poderia
alcançar. Era essa busca que mantinha Eisner na ativa.
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