Wilde, Oscar. O retrato de Dorian Gray. Abril; São
Paulo / SP; 2010; 298 páginas.
Breve relato do autor:
Oscar Wilde foi um
influente escritor, poeta e dramaturgo britânico, de origem irlandesa. Depois
de escrever de diferentes formas ao longo da década de 1880, se tornou um dos
dramaturgos mais populares de Londres, em 1890.
Dados da obra:
Neste romance, o
belo jovem Dorian Gray torna-se modelo para uma pintura do artista Basil Hallward.
O pintor o apresenta ao Lord Henry Wotton, que o faz tomar consciência de sua
beleza e do valor de sua juventude, iniciando-o em uma vida de vício. Sob essa
influência e apaixonado pela própria imagem, Dorian deseja permanecer
eternamente belo como no retrato, o que acaba acontecendo.
Passagens:
– Não conseguiria
explicar. Quando gosto muito de uma pessoa, não gosto de dizer-lhe o nome a
ninguém, pois é o mesmo que entregar parte dela. Passei a gostar da
privacidade, com o tempo. Parece a única coisa capaz de transformar a vida
moderna em algo misterioso, maravilhoso para nós. A coisa mais comum, se a
escondemos, torna-se deliciosa. Hoje em dia, quando saio da cidade, não digo à
minha gente aonde vou. Se o dissesse, perderia todo o meu prazer. É um hábito
bobo, eu diria, que, de alguma forma, parece
acrescentar, à vida das pessoas, uma boa dose de romance...
– Por demais
injusto! Eu estabeleço uma grande diferença entre as pessoas. Meus amigos
escolho-os pela beleza; meus conhecidos pelo caráter; e meus inimigos, pelo
intelecto. Um homem não pode ser tão meticuloso na escolha de inimigos. Nenhum
dos meus é idiota, são todos homens de certo poder intelectual e, por
conseguinte, todos me apreciam. Será vaidade de minha parte? Eu creio que sim.
– ... creio que, se
o homem vivesse uma vida plena, completa, se desse forma a toda sensação,
expressão a todo pensamento, realidade a todo sonho, creio que o mundo
conquistaria um impulso tão novo de alegria que nos esqueceríamos d todos os
males do medievalismo e retornaríamos ao ideal helênico, a algo mais
requintado, mais substancial mesmo, quem sabe.
... Ressecam as
flores comuns, mas reflorescem. O laburno, no mês de junho vindouro, será tão
amarelo quanto o é hoje, e daqui a um mês, haverá muitos asteroides púrpuros na
clematite. Mas jamais voltamos à juventude. A pulsação da alegria, que bate em
nós aos vinte, preguiça. Nossos membros falham, nossos sentidos apodrecem. Nos
degeneramos em fantoches repugnantes, assediados pela lembrança de paixões a
que muito tememos e pelas tentações exóticas a que não tivemos coragem de nos
entregar. Juventude! Juventude! Não existe nada no mundo, nada!, senão a
juventude!
– Como é triste! Eu
vou ficar velho, horrível, pavoroso. E este quadro permanecerá jovem, para
sempre. Não envelhecerá um dia além deste dia específico de junho... Ah, se
fosse o contrário! Se fosse eu a permanecer jovem para sempre, se fosse esse
quadro a envelhecer! Eu daria... eu daria tudo por isso! É isso mesmo, não há
nada neste mundo que eu não daria em troca! Daria até mesmo minh´alma!
... – Quando amamos,
sempre, no início, enganamos a nós mesmos; e, no fim, terminamos por enganar os
outros. É isso a que o mundo chama de romance...
Em boa parte, o
garoto fora sua própria criação. Fizera-o prematuro, o que era uma façanha. As
pessoas comuns costumavam esperar para que a vida lhes exibisse os próprios
segredos; para a minoria, porém, para os eleitos, os mistérios da vida eram
revelados antes mesmo que o véu fosse afastado, efeito, muitas vezes, da arte,
especialmente da literatura, que lida, direto, com as paixões do intelecto...
– O motivo por que
tanto gostamos de pensar bem dos outros é que todos nós temos medo de nós
mesmos. A base do otimismo é terror puro. Pensamos que somos generosos, pois
creditamos ao próximo a posse das virtudes propensas a nos beneficiar.
Enaltecemos o banqueiro para que possamos sacar a descoberto, e descobrimos
boas qualidades no salteador de estrelas na esperança de que nos poupe os
bolsos...
– A senhora não vai
se casar de novo, lady Narborough. A
senhora está muito feliz assim. Quando a mulher se casa de novo, é porque
detestava o marido anterior. E o homem, quando se casa de novo, é porque
adorava a última mulher. As mulheres tentam a sorte; os homens arriscam-na.
... – Todo romance
vive da repetição e a repetição converte todo apetite em arte. Além disso, cada
vez que amamos é a única vez que amamos. A diferença do objeto não altera a
exclusividade da paixão, apenas a intensifica. Podemos ter, na vida, no máximo,
uma grande experiência, e o segredo da vida está em repeti-la com a maior
frequência possível.
– ... A alma é uma
realidade terrível. Podemos comprá-la, vendê-la, barganhá-la. Podemos
envenená-la ou aperfeiçoá-la. Em cada um de nós existe uma alma. Eu sei que
existe.
... A tragédia da
velhice não é a existência do velho, mas sim, a existência do jovem...
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