Verissímo, Érico. Olhai os Lírios do Campo. Editora Globo; 1980 - Porto Alegre/RS; 290 páginas.
O livro narra a história de Eugênio Fontes, um homem que com sacrifício formou-se em Medicina. Na faculdade ele conhece e se apaixona por Olívia, com quem teve uma filha, mas, ambicioso, acaba se casando com uma mulher rica, Eunice.
Nesse romance, o autor compõe um painel de tipos humanos onde o conflito segurança x felicidade está sempre em evidência.
Breve relato do autor:
Érico Veríssimo nasceu na cidade de Cruz Alta, Rio Grande do Sul. Com quase 20 livros publicados – alguns traduzidos para o francês, inglês, alemão, italiano, espanhol e norueguês, apresenta-se antes de mais nada como um "contador de histórias".
Passagens:
"Nossa filha fez dois anos ontem. Já fala, faz perguntas e já sabe ficar parada, de cabecinha torta, pensando ninguém sabe em quê. Tenho de lhe explicar que ela também tem um pai, como as outras meninas. Anamaria indaga coisas sobre esse pai que nunca viu mas que já principia a amar. Para ela pois tu existes à maneira de Deus: tua filha não te vê mas sabe que 'és', sente em mim e de certo modo nela própria a tua existência. Por que será que ainda há homens que não acreditam em Deus? O simples milagre de existir é uma afirmação de Deus".
(carta de Olívia)
"–... A Olivia tinha razão... Felicidade é a certeza de que nossa vida não está se passando inutilmente... Como agora eu vejo claro! É preciso o contraste... Como é que eu podia aproveitar bem uma hora de conversas e brinquedo com a Anamaria se antes não tivesse passado muitas horas aqui curando as mazelas dos outros e pensando nas minhas próprias mazelas?"
(fala de Eugênio)
"– É curioso como eu penso agora nessas coisas. Antigamente só pensava em mim mesmo. vivia como cego. Foi Olívia quem me fez enxergar claro. Ela me fez ver que a felicidade não é o sucesso, o conforto. Uma simples frase me deixou pensando: 'Considerai os lírios do campo. Eles não fiam nem tecem e no entanto nem Salomão em toda sua glória se cobriu como um deles'."
(fala de Eugênio)
"Se naquele instante – refletiu Eugênio – caísse na terra um habitante de Marte, havia de ficar embasbacado ao verificar que num dia tão maravilhosamente belo e macio, de sol tão dourado, os homens em sua maioria estavam metidos em escritórios, oficinas e fábricas... E se perguntasse a qualquer um deles: 'Homem, por que trabalhas com tanta fúria durante as horas do sol?' – ouviria esta resposta singular: 'Para ganhar a vida'. E no entanto a vida ali estava a se oferecer toda, numa gratuidade milagrosa. Os homens viviam tão ofuscados por desejos ambiciosos que nem sequer davam por ela. Nem com todas as conquistas da inteligência tinham descoberto um meio de trabalhar menos e viver mais. Agitavam-se na terra e não se conheciam uns aos outros, não se amavam como deviam. A competição os transformavam em inimigos. E havia muitos séculos tinham crucificado um profeta que se esforçava por lhes mostrar que eles eram irmãos, apenas e sempre irmãos."
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