Neruda, Pablo. Presente de um Poeta. Vergara & Ribas Editoras – São Paulo / SP; 2001; 104 páginas.
Dados da obra:
Este livro, um verdadeiro Presente de um Poeta, reúne alguns dos poemas inesquecíveis de Neruda. E divide-se em quatro capítulos: O amor / A terra / A poesia / O homem.
Breve relato do autor:
Pablo Neruda foi um poeta chileno e um dos mais importantes poetas da língua castelhana do século XX, além de cônsul do Chile na Espanha e no México.
Passagens: Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Posso escrever, por exemplo: “A noite está estrelada,
e os astros, azuis, tiritam na distância”.
Gira o vento da noite pelo céu e canta.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Tanto a amei, e às vezes ela também me amou.
Em noites como esta eu a tive entre os meus braços.
Beijei-a tantas vezes debaixo do céu infinito.
Ela me amou, e às vezes, eu também a queria.
Ah, como não amar seus grandes olhos fixos.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi.
Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E cai o verso na alma como na relva o orvalho.
Que importa que meu amor não pudera guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.
Isso é tudo. Bem longe alguém canta. Lá longe.
Minha alma não se conforma com havê-la perdido.
Como para trazê-la meu olhar a procura.
Meu coração a busca, e ela não está comigo.
A mesma noite faz branquear as mesmas árvores.
Mas nós, os de outrora, já não somos os mesmos.
Já não a quero, é certo, porém quanto a amei.
Minha voz ia no vento para roçar-lhe o ouvido.
De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
Sua voz, seu corpo claro. Seus olhos infinitos.
Já não a quero, é certo. Mas talvez ainda a queira.
Como é tão breve o amor, tão longo o esquecimento.
Porque em noites como esta eu a tive entre os meus braços,
Minha alma não se conforma com havê-la perdido.
Ainda que seja esta a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que eu lhe escrevo.
(De Vinte poemas de amor e uma canção desesperada)
Não te quero a não ser porque te quero
e de te querer a não te querer chego
e de te esperar quando não te espero
passa meu coração do frio ao fogo.
Só te quero porque é a ti quem quero,
sem fim te odeio, e com ódio te peço,
e a medida do amor meu, viageiro,
é não te ver e amar-te como um cego.
Talvez consuma a luz de janeiro,
seu raio cruel, meu coração inteiro,
de mim roubando a chave do sossego.
Nessa história só eu morro
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero, amor, a sangue e fogo.
(De Cem sonetos de amor)
Minha fé em todas as colheitas do futuro se afirma no presente.
E declaro, por muito que se saiba, que a poesia é indestrutível.
(De Discurso no Chile)
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