Voltaire. Cândido ou o otimismo. Peguim Classics
Companhia das Letras. São Paulo / SP; 2011; 179 páginas.
Breve relato do autor:
Voltaire foi um
escritor, ensaísta e filósofo iluminista francês. Conhecido pela sua
perspicácia e espirituosidade na defesa das liberdades civis, inclusive
liberdade religiosa e livre comércio.
Dados da obra:
É um conto
filosófico em tom de sátira publicado pela primeira vez em 1759 e que narra a
história de um jovem, Cândido, vivendo num paraíso edênico e recebendo
ensinamentos do otimismo de Leibniz através de seu mentor, Pangloss. A obra
retrata a abrupta interrupção deste estilo de vida quando Cândido se desilude
ao testemunhar e experimentar eminentes dificuldades no mundo.
Passagens:
“Está demonstrado”,
dizia ele, “que as coisas não podem ser de outro jeito: pois tudo sendo feito
para um fim, tudo é necessariamente pra o melhor fim. Notem que os narizes foram
feitos para carregar óculos. As pernas foram visivelmente instituídas para usar
calças, e nós temos calças. As pedras foram formadas para ser tralhadas e para
fazer castelos; assim meu senhor tem um belíssimo castelo; o maior barão da
província deve ser o mais bem alojado; e os porcos sendo feitos para serem
comidos, comemos porcos durante o ano todo; por conseguinte, aqueles que
afirmaram que tudo está bem disseram uma bobagem; era preciso dizer que tudo
está o melhor”.
... “Quando
trabalhamos nos engenhos de açúcar e amó nos pega o dedo, cortam-nos a mão;
quando queremos fugir, cortam-nos a perna: eu me encontrei nos dois casos. É a
esse preço que vós comeis açúcar na Europa. Entretanto quando minha mãe me
vendeu por dois escudos patagões na costa da Guiné, ela me dizia: ‘Meu filho,
abençoa os nossos fetiches, adora-os sempre, eles te farão viver feliz, tens a
honra de ser escravo de nossos senhores brancos, e faz com isso a fortuna do
teu pai e da tua mãe’. Lamentável! Não sei se fiz a fortuna deles, mas eles
fizeram a minha. Os cães, os macacos e os papagaios são mil vezes menos
infelizes que nós. Os fetiches holandeses que me converteram me dizem todos os
domingos que somos todos filhos de Adão, brancos e negros. Eu não sou
genealogista, mas, se esses pregadores estão dizendo a verdade, somos todos
primos provindos de germanos. Ora, haveis de concordar que não se pode tratar
os parentes de maneira mais horrível”.
“Ó Pangloss!”,
exclamou Cândido, “não tinhas adivinhado esta abominação; acabou-se, será
preciso que afinal eu renuncie ao teu otimismo”. “O que é otimismo?”, dizia
Cocambo. “Lamentável!”, disse Cândido, “é a fúria de sustentar que tudo está
bem quando se está mal...”.
“Deveis ter”, disse
Cândido ao turco, “uma vasta e magnífica terra?” “Tenho apenas uns vinte
alqueires”, respondeu o turco; “eu os cultivo com meus filhos; o trabalho
afasta de nós três grandes males: o tédio, o vício e a necessidade”.
“mas é preciso
cultivar o nosso jardim”.
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