segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Cândido ou o otimismo

Voltaire. Cândido ou o otimismo. Peguim Classics Companhia das Letras. São Paulo / SP; 2011; 179 páginas.
 
Breve relato do autor:
 
Voltaire foi um escritor, ensaísta e filósofo iluminista francês. Conhecido pela sua perspicácia e espirituosidade na defesa das liberdades civis, inclusive liberdade religiosa e livre comércio.
 
Dados da obra:
 
É um conto filosófico em tom de sátira publicado pela primeira vez em 1759 e que narra a história de um jovem, Cândido, vivendo num paraíso edênico e recebendo ensinamentos do otimismo de Leibniz através de seu mentor, Pangloss. A obra retrata a abrupta interrupção deste estilo de vida quando Cândido se desilude ao testemunhar e experimentar eminentes dificuldades no mundo.
 
Passagens:
 
“Está demonstrado”, dizia ele, “que as coisas não podem ser de outro jeito: pois tudo sendo feito para um fim, tudo é necessariamente pra o melhor fim. Notem que os narizes foram feitos para carregar óculos. As pernas foram visivelmente instituídas para usar calças, e nós temos calças. As pedras foram formadas para ser tralhadas e para fazer castelos; assim meu senhor tem um belíssimo castelo; o maior barão da província deve ser o mais bem alojado; e os porcos sendo feitos para serem comidos, comemos porcos durante o ano todo; por conseguinte, aqueles que afirmaram que tudo está bem disseram uma bobagem; era preciso dizer que tudo está o melhor”.
 
 “Quê? Não tendes monges que ensinam, que disputam, que governam, que intrigam e que mandam queimar as pessoas que não compartilham as suas opiniões?” “Era preciso que fôssemos loucos”, disse o ancião. “Aqui somos todos da mesma opinião, e não entendemos o que nos dizeis com os vossos monges.” Cândido, com todos esses discursos, permanecia em êxtase, e dizia consigo mesmo: “Isto aqui é bem diferente da Westfália e do castelo do senhor barão: se o nosso amigo Pangloss tivesse visto o Eldorado, nunca mais teria dito que o castelo de Thunder-tem-tronckh era o que havia de melhor sobre a terra; é certo que é preciso viajar”.
 
... “Quando trabalhamos nos engenhos de açúcar e amó nos pega o dedo, cortam-nos a mão; quando queremos fugir, cortam-nos a perna: eu me encontrei nos dois casos. É a esse preço que vós comeis açúcar na Europa. Entretanto quando minha mãe me vendeu por dois escudos patagões na costa da Guiné, ela me dizia: ‘Meu filho, abençoa os nossos fetiches, adora-os sempre, eles te farão viver feliz, tens a honra de ser escravo de nossos senhores brancos, e faz com isso a fortuna do teu pai e da tua mãe’. Lamentável! Não sei se fiz a fortuna deles, mas eles fizeram a minha. Os cães, os macacos e os papagaios são mil vezes menos infelizes que nós. Os fetiches holandeses que me converteram me dizem todos os domingos que somos todos filhos de Adão, brancos e negros. Eu não sou genealogista, mas, se esses pregadores estão dizendo a verdade, somos todos primos provindos de germanos. Ora, haveis de concordar que não se pode tratar os parentes de maneira mais horrível”.
 
“Ó Pangloss!”, exclamou Cândido, “não tinhas adivinhado esta abominação; acabou-se, será preciso que afinal eu renuncie ao teu otimismo”. “O que é otimismo?”, dizia Cocambo. “Lamentável!”, disse Cândido, “é a fúria de sustentar que tudo está bem quando se está mal...”.
 
“Deveis ter”, disse Cândido ao turco, “uma vasta e magnífica terra?” “Tenho apenas uns vinte alqueires”, respondeu o turco; “eu os cultivo com meus filhos; o trabalho afasta de nós três grandes males: o tédio, o vício e a necessidade”.
 
“mas é preciso cultivar o nosso jardim”.

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