quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Os sofrimentos do jovem Werther

Goethe, J. Wolfgang. Os sofrimentos do jovem Werther. Nova Alexandria, São Paulo / SP, 1999; 144 páginas.

Breve relato do autor:

J. W. Goethe foi um escritor alemão e pensador que também fez incursões pelo campo da ciência. Como escritor, foi uma das mais importantes figuras da literatura alemã e do Romantismo europeu, nos finais do século XVIII e inícios do século XIX.

Dados da obra:

Os sofrimentos do jovem Werther é um marco do romantismo, considerado por muitos como uma obra-prima da literatura mundial, é uma das primeiras obras do autor, de tom autobiográfico - ainda que Goethe tenha cuidado para que nomes e lugares fossem trocados e, naturalmente, algumas partes fictícias acrescentadas, como o final.
O jovem Werther é marcado por uma paixão profunda, tempestuosa e desditosa. Sofre com a impossibilidade de consumar o amor ao se enamorar por uma jovem, Charlotte, já prometida a outro homem. A história é contada por meio de cartas enviadas por Werther ao seu amigo e também por intervenções do narrador.

Passagens:

Bem sei que não somos iguais, nem o poderíamos ser, mas acho que todo aquele que julga ser necessário afastar-se do que chamamos de povo para fazer-se respeitar é tão censurável quanto o covarde que se esconde do inimigo por medo de ser derrotado.

Farei o possível para vê-la o quanto antes, ou, pensando bem melhor, devo evitá-la. É preferível vê-la através dos olhos de seu apaixonado: talvez os meus não a vejam tal como ela agora se apresenta em minha mente. Por que, então, macular tão bela imagem?

... O autor que prefiro é aquele no qual se encontra o mundo em que vivo, em cujos livros as coisas se passam como em volta de mim, e cuja narração me prende e me interessa tanto quanto minha vida doméstica que, se não é nenhum paraíso, representa para mim uma fonte de inexprimível felicidade.

Considero-me imensamente feliz apenas por poder sentir a simples e inocente alegria do homem que põe em sua mesa um legume que ele próprio cultivou, e que não apenas o saboreia, mas igualmente, e num só momento, sorve todos esses dias felizes, a linda manhã em que o plantou, as encantadoras tardes e que o regou e teve o prazer de vê-lo crescer, dia após dia!

Falam que a pedra de Bolonha, exposta ao sol absorve os seus raios, e durante a noite se conserva luminosa durante algum tempo. Tive a impressão de que o mesmo se dava com aquele rapaz. A ideia de que os olhos de Lotte lhe haviam fitado o rosto, as faces, os botões de sua roupa, a gola do sobretudo, tornava tudo nele precioso e sagrado. Nesse momento, eu não cederia meu criado nem por mil táleres. Sua presença me fazia bem. Pelo amor de Deus, não vá rir de mim! Wilhelm, como pode ser ilusão aquilo que nos faz tão felizes?

– Chama a isso fraqueza? Por favor, não se deixe conduzir pelas aparências. Ousaria chamar de fraco um povo que, sofrendo o jugo irrespirável de um tirano, um dia se revolta e arrebenta suas cadeias? Devemos chamar de fraco o homem que, ante a horrível visão do incêndio ameaçando-lhe a casa, sente todas as forças exaltadas e carrega facilmente os fardos que, a sangue-frio, mal poderia mover? Ou então o homem que, enfurecido por uma ofensa, confronta seis outros e os vence? Mas, meu amigo, se o esforço constitui a força, por que motivo o esforço extremo seria considerado debilidade?

Estou certo de que somente o amor torna o homem necessário neste mundo.

... Ah! O que sei, todos podem saber... Mas este coração é somente meu.

Ah! Tão transitório é o homem que, mesmo nos lugares onde tem absoluta certeza de sua existência, sua presença deixa gravada uma impressão indelével na lembrança e na alma de seus amigos, mesmo ali vai se apagar, desaparecer num piscar de olhos.

... Que homem, que pai poderia encolerizar-se, quando seu filho, chegado de súbito, o abraçasse e exclamasse: “Estou de volta, meu pai! Não fique zangado se abrevio peregrinação que, segundo sua vontade, deveria seguir por mais tempo. O mundo é o mesmo em toda parte, após o cansaço e o trabalho, a recompensa e o prazer. Mas de que me vale tudo isso? Só me sinto bem perto de você, e quero ser feliz ou infeliz em sua presença...”
Oh, Pai celeste e misericordioso, poderia repelir esse filho pródigo?

Por que é que teve de nascer com essa impetuosidade, com essa paixão indomável que o prende a tudo que o impressiona? [...] Por favor, modere-se! Seu espírito, seus conhecimentos, seu talento, quantos prazeres eles lhe oferecem! [...] Não percebe que está se iludindo, que está se arruinando voluntariamente? Por que eu, Werther? Justamente eu...

E que importa que Albert seja seu marido? Seu marido! Isso é bom para o mundo... o mundo, para o qual é um pecado eu amar você e querer tirar-lhe de seus braços. Pecado? Que seja! Irei me punir por minhas próprias mãos. Saboreei este pecado em toda a sua celeste volúpia; o meu coração absorveu-lhe o bálsamo e a força da vida. Desde esse momento Lotte, você é minha, é minha.  Vou primeiro para junto de meu Pai, para junto de seu Pai. Não deixarei de queixar-me perante Ele, e Nele buscarei consolo, enquanto espero a sua vinda. E sairei a seu encontro, e a levarei comigo, e ficarei junto de você, num abraço eterno, diante da face do Deus infinito.

Quando vejo as limitações que aprisionam a capacidade humana de ação e pesquisa; quando vejo que toda a atividade se esgota na necessidade cujo único propósito é prolongar nossa pobre existência, e ainda que toda a tranquilidade em relação a certas questões não passa de uma resignação sonhadora, pois as paredes que nos aprisionam estão cobertas de formas coloridas e perspectivas luminosas...

... Mas, quando já está prestes a tomar esse rumo, lembra-se da fábula do cavalo que, insatisfeito com sua liberdade, deixou que lhe colocassem sela e arreios, para que o cavalgassem e acabassem com ele.

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