quarta-feira, 17 de setembro de 2014

A origem do mundo

Edwards, Jorge. A Origem do Mundo. Cosac Naify, São Paulo / SP, 2014; 160 páginas.

Breve relato do autor:

Jorge Edwards é uma das figuras de prosa da literatura chilena contemporânea. Escreveu poesia e romances. Como muitos escritores e poetas chilenos, enveredou pela carreira diplomática.

Dados da obra:

Na história, o casal de médicos Silvia e Patricio Illanes, exilados em Paris após o golpe de Pinochet, em 1973, convive com o amigo Felipe Diaz, um boêmio livre e sedutor, além de corajoso crítico dos velhos dogmas da esquerda. Com a morte do amigo, o que antes era apenas uma silenciosa desconfiança sobre os sentimentos de Silvia se fortalece e, tomado pelo ciúme juvenil aos 70 anos, Illanes começa uma patética investigação cuja principal pista é a reprodução de um célebre quadro de Gustave Courbet.

Passagens:

... O ciúme é uma paixão extremamente nociva, que nos faz ver fantasmas por todo o lado...

... Lênin, um pequeno-burguês, diferente de Bakunin, de Rosa de Luxemburgo, e que impôs, por isso, uma disciplina repressiva, com a ideia de que assim salvava a Revolução, quando na realidade a fodia para sempre, e depois de Lênin veio o camarada Stálin, o Paizinho dos Pobres, e aí sim que cagaram tudo, porque o Paizinho arrasou todos, castrou, encheu de cárceres mentais e outros.

Digo sempre que o golpe militar, de certa forma, nos abriu os olhos. Os homens nunca dizem essas coisas, e menos ainda quando são políticos ou politiqueiros, como são todos os chilenos, sem exceção, os que permanecem no país e os que partiram para o exílio, mas as mulheres, sim, podem dizer isso. O golpe nos fez conhecer o mundo à força. E não podemos mais voltar, nem a Iquire nem a parte alguma. Já nãohá volta; a volta, agora, é uma antecipação da morte.

... O doutor colocou os óculos de leitura, abriu o folheto e ficou sabendo que o quadro havia sido encomendado a Coubert por um bei da Turquia, membro do Jet set, pensou o doutor, da Paris de meados do século XIX e que a obra tinha permanecido em um aposento reservado, oculta por uma cortina verde e por uma portinhola onde um pintor de segunda linha havia pintado as ameias de um castelo e uma paisagem bucólica, percorrida por pastores, por riachinhos, por longínquos, rebanhos de ovelhas. Aprendeu também que, depois de algumas mudanças de proprietário, havia terminado na casa de campo de Jacques Lacan, cuja viúva era filha de Georges Bataille, o autor de Minha mãe e de História do olho.

... Porque sofrer, atormentar-se, é também uma forma – heroica – de resistir à velhice, de opor uma ilusão de vida ao implacável avanço da morte.

“São mais numerosas, Lucílio, as coisas que nos amedrontam do que aquelas que verdadeiramente nos fazem mal, e com mais frequência nos afligimos com o que supomos do que com os próprios fatos.” – Sêneca.

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