Zambra, Alejandro. Bonsai. Cosac Naify; São Paulo / SP;
2012; 64 páginas.
Breve
relato do autor:
Alejandro Zambra é um poeta e
contista chileno, selecionado em 2007 pelo Festival de Hay como um dos
escritores latino-americanos mais importantes e eleito em 2010 pela revista
Granta entre os 22 melhores escritores de língua espanhola com menos de 35
anos.
Dados
da obra:
Bonsai é a história de amor entre Julio e Emília, dois estudantes de Letras. É a história do fim deste amor. É também a história da consciência desse fim, das suas leituras, encontros e desencontros.
Passagens:
Naquela mesma noite, Emília mentiu
pela primeira vez para Julio, e a mentira foi a mesma, que tinha lido Marcel
Proust. No começo, ela se limitou a concordar: Eu também li Proust. Mas logo
houve um grande silêncio, que não era um silêncio incômodo, mas expectativa, de
maneira que Emília precisou completar a história. Foi no ano passado, não faz
muito tempo, levei uns cinco meses, andava atarefada, você sabe, com os
trabalhos da faculdade. Mas me propus a ler os sete tomos e a verdade é que
esses foram os meses mais importantes da minha vida de leitora.
“Tantália” é a história de um casal
que decide comprar uma plantinha para conservá-la como símbolo do amor que os
une. Percebem, tardiamente, que se a plantinha morrer, morrerá com ela o amor
que os une. E como o amor que os une é imenso e por nenhum motivo estão
dispostos a sacrificá-lo, decidem fazer a plantinha se perder entre uma
multidão de plantas idênticas. Depois ficam inconsoláveis, infelizes por saber
que nunca mais poderão encontrá-la.
Como eram inteligentes, passaram ao
largo dos episódios que sabiam ser célebres: o mundo se emocionou com isso, eu
vou me emocionar com outra coisa. Antes de começar a ler concordaram, por
precaução, que era difícil para um leitor de Em busca do tempo perdido recapitular sua experiência de leitura: é
um desses livros que mesmo depois de lidos a gente considera pendentes, disse
Emília. É um desses livros que vamos reler sempre, disse Julio.
A história de Julio e Emília
continua mas não prossegue.
Vai terminar alguns anos mais tarde,
com a morte de Emília; Julio, que não morre, que não morrerá, que não morreu,
continua mas decide não prosseguir. Emília também: por ora decide não prosseguir
mas continua. Dentro de alguns anos não continuará nem prosseguirá mais.
Não é porque se sabe de uma coisa
que se pode impedi-la, mas há ilusões, e esta história que vem sendo uma
história de ilusões...
Um bonsai é
uma réplica artística de uma árvore em miniatura. Consta de dois elementos: a
árvore viva e o recipiente. Os dois elementos têm de estar em harmonia e a
seleção do vaso apropriado para uma árvore é, por si só, quase uma forma de
arte. [...] Um bonsai nunca é chamado de árvore bonsai. A palavra já inclui o
elemento vivo. Uma vez fora do vaso, a árvore deixa de ser um bonsai.