terça-feira, 27 de agosto de 2013

Watchmen

Moore, Alan; Gibbons, Dave. Watchmen. Panini Books. Barueri / SP; 2005; 412 páginas.
 
Breve relato dos autores:
 
Alan Moore é um autor britânico de histórias em quadrinhos. E Dave Gibbons é um artista, também britânico, de história em quadrinhos.
 
Dados da obra:
 
Watchmen é uma série de história em quadrinhos escrita por Alan Moore e ilustrada por Dave Gibbons. A trama é situada nos Estados Unidos de 1985, um país no qual aventureiros fantasiados seriam realidade. O país estaria vivendo um momento delicado no contexto da Guerra Fria e em via de declarar uma guerra nuclear contra a União Soviética. Watchmen retrata os super-heróis como indivíduos verossímeis, que enfrentam problemas éticos e psicológicos, lutando contra neuroses e defeitos, e procurando evitar os arquétipos e super-poderes tipicamente encontrados nas figuras tradicionais do gênero.
 
Passagens:
 
Um corpo vivo e um morto contém o mesmo número de partículas.
Estruturalmente não há diferença discernível.
Vida e morte são abstrações não quantificáveis, por que eu deveria me importar?
 
Olha – eu disse – não faço ideia de como é escrever um livro. Tenho um monte de coisas na cabeça que quero pôr no papel, mas o que eu abordo primeiro? Por onde começar?
Sem levantar os olhos das caixas de detergente nas quais estava colando as etiquetas de preço, Denise, de bom grado, ofereceu-me uma pérola de acumulada sabedoria em sua voz repleta de entediada, mas benigna, condescendência:
– Comece pela coisa mais triste que você possa imaginar e conquiste logo a compaixão do leitor. Depois disso, vá por mim, tudo o mais fluirá sem esforço.
 
... Se podemos aceitar que partes flutuantes de um fuzil são reais, também temos ciência de que tudo que sabíamos ser verdadeiro talvez possa provavelmente ser irreal. Essa intranquilidade peculiar é alguma coisa com a qual a maioria de nós aprendeu a viver no decorrer dos anos, e ainda se faz presente.
 
Um mundo cresce ao meu redor. Será que eu o estou moldando ou seus contornos predeterminados guiam minha mão?
Em 1945, bombas caem no Japão, engrenagens no Brooklyn, sementes do futuro são plantadas negligentemente...
Sem mim as coisas teriam sido diferentes. Se o gordo não tivesse esmagado o relógio, se eu não o tivesse deixado na câmara... Sou eu o culpado, então? Ou o gordo? Ou meu pai por escolher minha carreira? Qual de nós é responsável? Quem fez o mundo?
Talvez o mundo não seja feito. Talvez nada seja feito. Talvez nada seja feito. Talvez simplesmente seja, tenha sido, será eternamente...
... Um relógio sem artesão.
 
Tigre, Tigre
ardente açoite
Nas florestas
da noite.
Que imortal olho ou guia
Pode captar-te a terrível simetria?
(William Blake)
 
Mas ele não disse o que o compele. Não é sua infância, sua mãe ou Kitty Genovese. Essas coisas apenas o fizeram reagir à injustiça do mundo.
Nada disso o fez cruzar o limite.
Nada disso o transformou em Rorschach.
É como se o contato contínuo com os elementos mais deploráveis da sociedade o tivesse tornado ainda mais deplorável, ainda pior.
Se eu pudesse convencê-lo de que a vida não é assim, de que o mundo não é assim...
Eu sei que não é.
 
A existência é aleatória, sem padrão, a não ser o que imaginamos depois de ficar olhando por muito tempo. Sem sentido, a não ser o que decidimos dar.
Não são forças metafísicas vagas que moldam este mundo. Não é Deus quem mata as crianças. Não é o destino que as trucida ou a sina que as dá de comer aos cães.
Somos nós.
Só nós.
 
Eu me sento.
Olha a mancha de Rorschach.
Tentei fingir que parecia uma árvore frondosa, com sombras sobre ela, mas não consegui.
A imagem lembrava o gato morto que um dia encontrei, as larvas gordas e cegas que se rastejavam, abrindo túneis freneticamente para longe da luz.
Mas mesmo essa imagem é para evitar o verdadeiro horror.
O horror é este: ao final tudo não passa de uma imagem de escuridão, vazia e sem sentido.
Estamos sozinhos.
Não existe mais nada.
 
Não enfrentes monstros sob pena de te tornares um deles, e se contemplas o abismo, a ti o abismo também contempla.
(Friedrich Wilheim Nietzsche)
 
Eu questionava o sentido de tanta labuta, o propósito do esforço sem fim, que leva a nada, deixando as pessoas vazias e desiludidas...
... deixando-as alquebradas.
Tudo bem, admito que muita gente teve vida azarada, não realizou nada palpável, mas... mas será que nós temos importância no conjunto do universo? Só a existência da vida já não é algo significativo?
Em minha opinião, ela é um fenômeno exageradamente valorizado. Marte se dá muito bem sem um único microorganismo.
 
Mas o mundo é tão cheio de pessoas, tão repleto desses milagres que eles se tornam lugar-comum e nós os esquecemos...
Eu esqueci.
Nós contemplamos continuamente o mundo e ele se torna opaco às nossas percepções. No entanto, encarado de um novo ponto de vista, ele ainda pode ser impressionante.
 
Vamos. Enxugue as lágrimas, porque você é vida, mais rara do que um quark e mais imprevisível do que qualquer sonho de Heisenberg. A argila na qual as forças que moldam a existência deixam suas impressões digitais mais claras.
Enxugue as lágrimas...
... E vamos para casa.

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