Faulkner, William. Enquanto agonizo. Editora Expressão e
Cultura; Rio de Janeiro / RJ; 1973; 212 páginas.
Breve relato do autor:
William Faulkner é considerado
um dos maiores escritores estadunidenses do século XX. Recebeu o Nobel de Literatura de 1949.
Posteriormente, ganhou o National Book
Awards em 1951, por Collected Stories
e em 1955, pelo romance Uma Fábula.
Foi vencedor de dois prêmios Pulitzer,
o primeiro em 1955 por Uma Fábula e o
segundo em 1962 por Os Desgarrados.
Dados da obra:
Enquanto Agonizo é um romance conhecido pela técnica de narrativa de fluxo de
consciência, com vários narradores e diferentes comprimentos de capítulo. O
livro é narrado por 15 personagens diferentes, e distribuído em 59 capítulos.
Relata a história da morte de Addie Bundren e as questões e motivações de sua
família — nobres ou egoístas — para homenagear o seu desejo de ser enterrada na
cidade de Jefferson.
Passagens:
“Onde está Jewel?”,
pergunta Pai. Quando eu era menino, aprendi que a água fica mais saborosa
quando recolhida, durante algum tempo, numa tina de cedro. Fresca, com um leve
gosto semelhante ao cálido vento de julho tirando aroma das folhas de cedro.
Tem de ficar guardada pelo menos seis horas e ser bebida em cabaça. Nunca se
deve beber água em vasilhas metálicas.
Para fazer a gente,
são necessárias duas pessoas, para morrer, basta uma. Assim o mundo marca para
o fim.
Lembro-me que,
quando jovem, eu julgava a morte um fenômeno do corpo; agora, sei que não passa
de função do espírito e também do espírito dos que sofrem a perda. Os niilistas
dizem que a morte é o fim; os fundamentalistas, que é o princípio; quando, na
realidade, não é mais que um inquilino ou uma família que sai de uma casa
alugada ou de uma cidade.
Cora está certa
quando diz que ele precisa é de uma mulher para fortalecer-se. E quando penso
nisso, concluo que se o casamento é a única salvação de um homem, então ele
está perdido. Mas reconheço que Cora tem razão quando diz que a razão de Deus
haver criado as mulheres está em que o homem não conhece seu próprio bem quando
este aparece.
Em quarto estranho é
preciso criar em nós mesmos o vazio, para poder dormir. E antes de se ficar
vazio para o sono, que é que somos, afinal? E quando ficamos vazios para o
sono, já não somos nada. E quando estamos cheios de sono, nunca somos nada. Não
sei o que sou. Não sei se sou ou não sou...
Parecia que,
enquanto o embuste corria tranquilo e monótono, todos nós o aceitávamos,
favorecendo-o com a nossa inconsciência e talvez com a nossa covardia, já que
todas as pessoas são covardes e preferem, naturalmente, qualquer gênero de
traição, pois a traição tem o seu lado cômodo.
... E quando soube
que ia ter Cash, percebi que viver era terrível e que aquilo era a resposta.
Então soube que palavras não têm importância, que palavras nunca exprimem o que
tentam dizer.